quinta-feira, 7 de março de 2013

Acorda Portugal!




“ Sendo o primeiro elemento de um bom governo a virtude e inteligência dos seres humanos que compõem a comunidade, o ponto mais importante de excelência que qualquer forma de governo pode possuir é promover a virtude e inteligência das próprias pessoas. A primeira questão relativamente a qualquer instituição política é até que ponto tendem a alimentar nos membros da comunidade as várias qualidades, na medida em que existem nas pessoas, que depende toda a possibilidade de bondade nas operações práticas do governo. (…)
Podemos considerar, pois, como critério da bondade de um governo o grau no qual tende a soma das boas qualidades nos governados, colectiva e individualmente, uma vez que, para além de o bem-estar destes ser o único objecto do governo, as suas boas qualidades providenciam a força motriz que faz funcionar a máquina.” John Stuart Mill.
De facto, a importância da qualidade de pensamento de uma comunidade, do individual para o colectivo, funcionará como motor ou travão de crescimento e de excelência, dessa comunidade.
E eu pergunto? Portugal, enquanto país, tem qualidade?
Os portugueses, enquanto comunidade, têm qualidade?
Claro que para ambas as questões, a minha resposta é SIM. Mas, e realço o meu MAS, é uma qualidade adormecida. Temos um povo encarcerado num pensamento demasiado egocêntrico, demasiado desviado da realidade. Culpa? A culpa foi de todos.
Nestes últimos tempos, temos assistido a diversas formas de manifestações anti governo, anti troika. Não sou contra quem as faz, é um direito das suas próprias consciências. Mas é também um dever de responsabilidade. Eu pessoalmente não acredito nas manifestações, assumo-o e digo que não participarei delas, enquanto achar que são de cariz e interesse politico, tem fundamentos do qual discordo, e não mudam nada. E neste momento não acredito em partidos, instituições políticas, sindicatos, instituições de soberania. Não acredito neste governo também.
Como dizia o texto atrás, o governo deve ter como objectivo, para além do bem-estar das pessoas, as boas qualidades do seu povo, para que estes providenciem a força motriz que fará funcionar a máquina.
Nem este, nem nenhum dos governos foram capazes de o fazer. Criaram uma sociedade de direitos, uma sociedade dependente do Estado em tudo ou quase tudo, uma economia totalmente refém do Estado, enfim, criaram uma espécie de povo coxo, sempre a caminhar com a muleta Estado.
E este tipo de pensamento está a vir à tona nestes tempos conturbados.
O que se vê é um Estado falido, sem soluções aparentes, prisioneiro de uma série de poços sem fundo, e uma sociedade e respectiva economia, que não conseguem desprender-se deste sufoco que é o afundar do Estado.
E qual a reacção do seu povo, o tal a quem ainda falta muita qualidade de auto exigência? O tal que forneceu, sempre, os governantes, os deputados, os pensadores que foram construindo este país, e que foram ao mesmo tempo, decapitando a sua soberania? O que faz este povo?:
- “Foge” da auto-análise. Não consegue parar e pensar onde errou, e como pode aproveitar essa admissão do erro para encontrar soluções para a mudança; prefere apontar o dedo aos outros, prefere procurar culpados numa verdadeira caça às bruxas. É o BPN, quando durante estes anos todos, muitos BPNs foram acontecendo – o EURO 2004, a falta de estratégia para um país sustentável, a criação sucessiva de subsídios e de seus dependentes, a falta de referendos à EU, ao Euro ( desviados pelas atenções secundárias da igualdade de direitos matrimoniais… sinceramente, existem leis que são tão fáceis legislar e prefere-se ocupar o tempo com discussões que apenas servem para desviar as atenções, sou a favor da igualdade de direitos, mas também da igualdade de deveres, oportunidades e responsabilidades. Ponto.)… E poderia estar aqui a enumerar tantos BPNs… e eles sempre aconteceram com o aval de todos… se hoje não houvesse crise, as pessoas não protestavam. Podia até existir a corrupção, podiam existir alguns pobres e sem abrigo ( como sempre existiram e existirão), mas estava tudo bem, “Venha a nós o vosso reino”…
- Investe na reivindicação dos seus Direitos, sem nunca ter assumido a responsabilidade dos seus Deveres. É fácil exigirmos os direitos. O direito à saúde, o direito à educação, o direito à justiça, etc. É o mais fácil, mas e o dever, onde é que se enquadra, o dever? Por exemplo, onde fica o dever daqueles que durante anos, foram sendo ajudados a passar de ano, sem que sentissem o poder da responsabilidade e o peso da procura pelo saber, e conseguiram chegar às Universidades, tudo em nome da Alfabetização, e que agora, muitos, ainda continuam a ocupar os lugares das faculdades, ou que engrossam as fileiras do absentismo? E pior, com subsídios, pagos por todos nós… E onde fica o dever, daqueles que se formaram como o Miguel Relvas, o José Socrates, através das equivalências, através de um sistema que permitiu, ano após ano, esse tipo de Diplomas, e agora, vem, indignados, dizer “VAI ESTUDAR Ó RELVAS”? E onde fica o dever dos que preferiram a praia, o campo ou um jogo de bola, ao voto, mas que agora vem protestar e cantar o “Grândola Vila Morena”? E pior, onde está o dever dos políticos que defendem e juram perante a bandeira e a democracia, e que agora apregoam que este governo é ilegítimo, não tem razões para continuar? E muito mais deveres poderia enunciar…

Questionaram-me este fim-de-semana sobre qual é a minha opinião para sairmos desta situação.
Não sou dono das soluções. Mas tenho a minha forma de pensar, sem estar refém de um tipo de pensamento colectivizado.
Bem, primeiro, enquanto não tivermos a noção da gravidade das coisas, verificarmos que o barco está mesmo a ir ao fundo, que falta pão na mesa… não é a unha de gel, o café da manhã, o almoço no shopping, a roupa de marca, as férias no Brasil, falta mesmo o pão na mesa, o essencial. Acordem, a Jonet não o disse porque lhe apeteceu armar-se em chique. Disse-o porque estamos a falar do real, da verdade. Pão é essencial. Enquanto não acordarmos para o problema, ele vai crescer e crescer.
Posso não gostar deste governo, mas não acredito que ele tenha prazer em destruir o país… deixem-se de ser bacocos… eu não gosto dele por 3 razões apenas:
- Falta de cultura de liderança. Precisamos de um Líder, de alguém que nos guie pelo deserto.
- Falta de um rumo. Precisamos de uma estratégia, um pensamento que mostre que qual seja o caminho, é aquele que temos de realizar para alcançarmos o topo da montanha;
- Falta de coragem. Esta foi talvez, das últimas oportunidades que tivemos para mudar uma cultura absentista e parada num tempo, repleta de fantasmas por resolver, sem uma ideologia própria. E este governo não aproveitou essa oportunidade. Pior do que aquele que faz mal é o que tem a oportunidade em fazer o contrário e faz igual. Para mim é assim que sempre recordarei Passos Coelho.

Segundo, precisamos de entrar em ruptura com muita coisa:
- Velhos do Restelo,
- Fantasmas,
- Ideologias retrógradas que servem apenas para demagogias baratas e populistas. São as sanguessugas do sistema, nada mais. Apenas se alimentam de duas coisas, Revoluções ou contrapoder. É a esquerda profunda, é o comunismo, o estalinismo e o trotskismo que já não faz sentido. Não precisamos de revoluções, protestos ou ideias que nos conduzam ainda mais para o abismo. Precisamos, volto a recordar, de soluções para sairmos de onde estamos.
- E abandonar a esquizofrenia. Não gosto de muitos banqueiros. Posso não concordar com o que alguns patrões dizem, mas agora não vou pedir que deixe de existir o Capital. Senão pergunto, podem-me explicar como é que um país vive sem Capital, sem riqueza? Como é que se produz? E sem produção, sem consumo, como é que se arranjam empregos, por exemplo?

Terceiro, e talvez uma das coisas mais esquecidas, mas das mais importantes: acabemos com a mania das elites, dos Doutores e Engenheiros. Sejamos honestos no que fazemos. Eu gosto de cultura, adoro escrever, ler, teatro, etc… mas durante anos e anos a cultura em Portugal tem sido o exemplo das elites instituídas. Durante anos, foram imensos os valores que morreram na praia, porque ou não pertenciam a essas elites ou eram bloqueados no acesso às vias culturais, por essas mesmas elites. Temos um gosto sadomasoquista, de que os grandes obreiros da cultura em Portugal ou tem de ser primeiro reconhecidos no exterior para apenas depois serem cá dentro, ou então pior, serem a titulo póstumo. E agora vem dizer que a cultura está a morrer? Ela já morreu há muito. Porque?
Um país com uma forte cultura é desde logo um país com uma forte consciência individual e colectiva. Um país que pensa, que filosofa, que discute e procura argumentar construtivamente, que tem as suas raízes de identidade e soberania bem solidificadas, é um país que sabe responder bem e com soluções fortes às adversidades. Exemplo da falta disto: um país que hipoteca a sua língua, base do seu sustento cultural, aos interesses dos outros, é uma nação sem soberania ou identidade. Um país que mais rápido aposta num autor estrangeiro, ou noutro tipo de agente cultural estrangeiro, do que num português( durante décadas que se fez isto), é um país com vergonha de si próprio.
As soluções não caem do céu. Eu gostava muito de não ver aqueles em quem investiu-se tanto, a terem de sair do país, mas primeiro não queria ver um país cair na desgraça do vazio, que é onde estamos a cair. Cantar as “Grandolas” teve o seu tempo, empunhar cartazes teve o seu tempo, fazer greves que nada resolvem teve o seu tempo, pensar em viver do Estado em tudo teve o seu tempo, olhar para o lado teve o seu tempo… mas quanto tempo mais vamos precisar para acordarmos para a realidade? A verdadeira realidade, que estamos vazios, e não só no dinheiro, não só nos orçamentos familiares? Estamos vazios no pensamento.
Iremos nós precisar mesmo de um conflito? De mortes? De sangue? De lágrimas? Para vermos que nos falta o pensamento, o mesmo que os governantes, todos, nos foram roubando estes anos, com um sistema que alimentou a sermos ocos. E o mesmo sistema que construiu e continuará a fazer, os polticos que temos, sempre, tido.
“O amor ao poder e o amor à liberdade estão em eterno antagonismo. É onde existe menos liberdade que a paixão pelo poder é mais ardente e imoral. O desejo de poder sobre os outros só deixará de ser um agente corruptor da humanidade quando todas as pessoas puderem, individualmente, passar sem ele – o que apenas acontecerá quando o respeito pela liberdade da vida pessoal de cada um for um princípio estabelecido” John Stuart Mill in “A Sujeição das mulheres”.