Neste blog também se fala de Natal. Quero deixar-vos um
texto muito especial, uma reflexão sobre a viagem que o Homem deve fazer no seu
mais profundo Eu. Partilho-o convosco, desejando um Feliz Natal, com Amor... e reflexões
politicamente incorrectas, pois pensem sempre por vós e nunca como rebanho. Até
breve.
"Este é um tempo
de culminar.
todos os anos, ao redor
do 21 de Dezembro, o Sol estícia-se; e as trevas distendem-se. É a noite mais
longa do ano no nosso hemisfério. O Sol aparentemente estaca durante três dias
- e não deixa de ser irónica a sua paragem aparente, já que começa por ser o
seu movimento a primeira ilusão -
e a noite parece durar
mais do que nunca.
mas é precisamente
nesse momento e no dia - na noite - das trevas mais longas do ano, é
precisamente nesse instante que as Trevas atingem o seu limite e por isso a Luz
ganha novo impulso, e recomeça gradual, quase imperceptivelmente, dia após dia,
a brilhar cada vez mais e iluminar durante cada vez mais minutos a experiência
dos homens, até vir a tingir o seu auge no dia mais longo do ano, o solstício
do Sol no Verão. E é, então, a loucura a
estultícia do solstício no verão. Veremos.
mas por enquanto ainda
é frio, e restrição. A sabedoria de tirar muito muito de muito pouco, a
hibernação/invernação, a escassez de recursos e de Vida, a vitalidade limitada,
a importância de administrar sabiamente os recursos limitados. A aprendizagem
através da dificuldade e da limitação: a limitação da matéria e dos recursos
naturalmente à disposição. A irreversibilidade do tempo. A inata consciência da
escassez, e de Cronos, a necessidade da auto-fiscalização e do auto-controlo, a
responsabilidade perante a própria existência - a ambição de ter o maior
sucesso possível no processo de não só sobreviver, mas de aprender com a experiência
e transformá-la, gradualmente, em sabedoria, para que se trate de sobreviver
cada vez menos e cada vez mais de viver... aprender com o passado, confiar no
já conhecido para guiar, o capitão do navio, o mestre hábil e experiente, o
sábio ancião, o velho lobo do mar
esta é a altura do
confronto com a realidade, com o peso das circunstâncias concretas, com o que
está instituído, com a consequência de todas as causas anteriores. É altura de
reconhecer as circunstâncias, fazer um assessment, um balanço, um levantamento,
uma 'vestoria'
e aceitar as
limitações.
e aceitar também a
tristeza.
não cabe falar aqui das
depressões sazonais recorrentes, tão previsivelmente recorrentes, e tão
reconhecíveis - facilmente reconhecíveis - nos consultórios de psicoterapia, se
não nas ruas, aos volantes dos automóveis, nas filas para o pagamento nas
caixas dos mercados: dos de mercearias, dos de roupa, dos de cultura, dos de
tecnologia;
não cabe aqui falar do
poder que o Natal tem de evocar as reminiscências infantis do Natal em família,
do Natal em orfandade, da grande reunião de família, dos familiares falecidos,
evocados ou omnipresentes, dos sonhos de abóbora e dos sonhos desfeitos, da
magia dos presentes e do encantamento da infância e das famílias entretanto
atomizadas, da inocência com que o Natal era vivido uma vez e que tornava
possível sonhar -
não cabe aqui falar de
Caranguejo como o pólo oposto e complementar de Capricórnio, da reminiscência
infantil como resposta inevitável à necessidade de ser adulto, de perder a
inocência, de aceitar a passagem do tempo, de ter de ser pai e provedor quando
a memória de ser filho e provido é ainda tão viva, embora aparentemente
distante, afastada da superfície da consciência por um dia-a-dia de tarefas, ocupações,
preocupações e responsabilidades: a "vida de adulto" que se leva, e
na mor das vezes com alguma impunidade, dia após dia, mês após mês, ano após
ano, década após década - menos quando é Natal.
o que cabe aqui dizer é
que este é um tempo de culminar
que todos os anos, ao
redor do 21 de Dezembro, o Sol estícia-se; e que as trevas se distendem. Que é
essa a noite mais longa do ano no nosso hemisfério. Que o Sol aparentemente
estaca durante três dias - e que não deixa de ser irónica a sua paragem aparente,
já que começa por ser o seu movimento a primeira ilusão -
e que nesse momento em
que a noite parece durar mais do que nunca
precisamente nesse
momento e no dia - na noite - das trevas mais longas do ano, é esse o instante
preciso em que a Luz ganha novo impulso, e recomeça gradualmente a brilhar,
mais e mais, até atingir o seu auge no dia mais longo do ano, o do solstício de
Verão
e que se, como Lao-Tzu
ensinou há milhares de anos, "qualquer coisa nasce sempre do seu
contrário. Se o verão dá lugar ao inverno, a noite ao dia, o frio ao calor, se
o claro pressupõe a existência do escuro, o branco a existência do preto e
assim indefinidamente, então a realidade tem como complemento a não-realidade.
Ser e não-ser são os dois pólos de uma mesma curva",
então este é um tempo
de início apesar do culminar
um tempo de Luz e Calor
apesar de fazer frio,
que muito pode nascer
dentro enquanto muito morre por fora
que este é um tempo de
liberdade absoluta na aceitação das restrições intransponíveis,
um tempo de alegria na
aceitação da tristeza
o momento preciso de
fazer o balanço do percurso percorrido,
o momento de processar
toda a memória,
o momento de cessar a
expectativa.
o momento de concluir
uma caminhada
mas acima de tudo, o
momento de recordar
que o Caminho apenas
começou.
Com um abraço de Luz,
senão na pele, pelo menos no âmago da Consciência, que se estenda e estenda e
estenda até ao mais íntimo do verão, senão nas ruas desertas e frias, pelo
menos na ante-câmara do Coração.
Feliz Natal idade,
nUno Michaels”