quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Grécia: E a Montanha "pariu" um Rato?

“Muitos odeiam a tirania apenas para que possam estabelecer a sua.”
Platão.

E aqui começo a falar da Grécia e do seu novo governo, composto pelo Syriza, com o seu líder Alexis Tsipras como primeiro ministro.
Não desejo alongar-me, ainda, em grandes reflexões sobre esta nova liderança, mas penso que alguns dados podem desde já ser considerados.
1.     De facto estas eleições gregas poderão ser um farol de aviso para muitos dos países europeus, com a prevista ascensão de partidos e movimentos radicais. Não é nada de novo esta vitória, pois o enfraquecimento e a desilusão das sociais-democracias europeias e mundiais, é um facto e não uma promessa. As austeridades, o descontrole com as finanças, o consumo desmesurado e as diferenças sociais são dos pilares desta queda abrupta nas sociedades modernas. Mas, e sim, existe um mas, é um facto também que essa queda das sociais-democracias se deve a um facto puramente humano do que político. Humano porque o Homem é um predador do poder, é um sedento pela ostentação e detenção do poder. Vivemos o século do poder pelo poder, e não o poder pelo governar, pelo saber gerir, pelo dever de gerir. Logo, a decadência não é só das sociais-democracias, a derrota é geral, é da política em si, dos partidos e acima de tudo do Homem, da sua enorme falta de consciência individual e da procura de uma sociedade baseada não no poder, mas na verdade da governação. Perguntarão qual a diferença entre o poder e a governação.  Poder é o sistema entregue à tirania dos partidos, dos seus interesses, de uma filosofia desordenada e desqualificada da realidade social, económica e educacional das sociedades, onde apenas interessa o percurso populista, interesseiro, do clientelismo e com uma agenda política suspeita e fechada. O Poder precisa de criar a pobreza, grupos inferiores onde possa injectar o vírus da ignorância de consciências, com vista a permanecer com a sua tirania de superioridade, alimentando-os com gratuidades supérfluas e que apenas servem para criar vícios irreversíveis nas sociedades.  O Poder usa-se da existência do Estado para impor as suas ordens. E o pior do Poder, apenas existem direitos adquiridos, e nenhum dever. Governação é o principio do equilíbrio, é a agenda de um país, baseada nos seus recursos, nas suas possibilidades de construir riqueza, de forma responsável, transversal à sociedade, sem divisão de classes pela riqueza, nem na fomentação de grupos sociais inferiores, antes pelo contrário, a procura de um equilíbrio de forças nas possibilidades de oportunidades na criação de riqueza, baseadas no empreendedorismo e numa ausência do peso do estado. Na governação o estado existe como regulador, como legislador e como equilíbrio das principais vias de crescimento de qualquer sociedade, Educação, Justiça, Saúde e Segurança Social. Mas este equilíbrio não é obtido com a gratuidade irresponsável destes 4 pilares. Ele é obtido com a possibilidade de um acesso geral da sociedade de forma sustentável ( que em muitos casos não passe pelo gratuito), mas com a responsabilização individual na participação de cada cidadão que usufrui destes pilares. Só assim se constrói o equilíbrio essencial de uma sociedade dita justa, os direitos são iguais aos deveres. A governação não se usa de clientelismos, de interesses individualistas ou à irresponsabilidade alheia. A governação é o principio da liberdade.
2.     Exemplos da História sobre Poder: Socialismo, Comunismo, Esquerdas Radicais, Direitas Radicais, Fascismo, Nazismo, as sociais-democracias... Exemplos de Governação:...
3.     Por isso só por agora...A Grécia é um país com sistemas atípicos, quer financeiros, quer fiscais, quer sociais. Um país que tem uma economia paralela mais forte quase do que a própria economia, e onde a subsidiodependência é um direito adquirido e não uma farsa. E agora um partido, que faz uma aliança nada provável com a extrema direita... de facto, os extremos tocam-se... vem desde já impor regras de autoridade sobre pactos fundamentais, assinados por responsáveis gregos no passado, onde a divida grega ascende a valores irreais, criada pelo sistema de sociedade e consciência gregos. Ok, houve interesses e aproveitamento de interesses estrageiros, houve. Bancos sedentos de Poder e dinheiro se aproveitaram da Grécia. Mas, como em Portugal, eu pergunto, enquanto o dinheiro entra em casa, permite-nos viver acima das possibilidades, mostrar-nos ao mundo com uma realidade irreal, tudo é legal, tudo é honesto, tudo é de facto a Verdade? Mas quando chega a vez de pagar a divida, chamar à responsabilidade, pagar todas essas riquezas, toda essa ostentação...bem, não, a culpa não é minha e dos outros, é do capital, é da direita, é dos que querem roubar aos pobres para dar aos ricos, é... sei lá... Pois.
4.     Deixo para já esta reflexão: Um partido que tem no seu programa que já está a colocar em prática, politicas despesitas do Estado ( que é formado por todos, dos pobres aos ricos), desde a gratuidade da eletricidade, a apoios sociais insustentáveis ( e com o interesse de apenas manter os pobres sempre pobres, como no Brasil com o bolsa família), em que o deseja investir em bem superior ao que pensa receber... como é que eles pensam tornar a Grécia sustentável?... Através dos que de facto trabalham, dos que cumprem com as suas obrigações, goste-se delas ou não?
5.     Finalizo dizendo apenas que em Portugal temos uma apetência pelo que vem de fora. Temos um exemplo no PM e nesta governo, como nos anteriores, ou mesmo na cultura barata de que lá fora tudo o que acontece é sempre melhor que em Portugal...mas agora atingimos o insustentável na consciência individual dos portugueses, pensar que Tsirpas é um mago que vai resolver os problemas de todos, incluindo o de Portugal, pois bem, só demonstra que a esquerda, o socialismo demagogo e ultrapassado está a atingir um auge nunca visto, o da idiotice. Sejamos francos, num país de Direitos onde cabe afinal o Dever de desenterrar a cabeça da areia, olhar para dentro e verificar que a culpa não é uma forma de vida, mas um principio do fim. As soluções apenas surgem quando um povo decide pensar um a um, e um a um levantar-se, reconstruindo-se em corpo e alma, responsavelmente, construindo uma sociedade de direitos e deveres, igualdades de oportunidades, e justiça social baseada no que dizia Kennedy “ Não penses no que o país pode fazer por ti, pensa no que podes fazer pelo país.”
6.     Espero, sentado, para ver se Tsirpas não vai ter o seu quadro ao lado de promessas como Hollande, Obama, Costas, e outros tantos... Líderes são raros, demagogos aos magotes...


Só uma nota: é de rir aqueles que chegam ao propósito de acharem que a diferença na mudança está no tempo em que o governo grego levou a tomar posse, face ao tempo em Portugal em que um governo toma posse também...talvez a solução esteja mesmo aí, no tempo dos idiotas...Eu acho que o problema português está numa coisa, na sua constituição puramente socialista, comunista e esquerdista demagoga, ah e em mais uma coisa, não termos um partido de verdadeira direita. Logo, independente de direita ou esquerda, falta-nos o equilíbrio, porque todos os partidos e todos os políticos portugueses, assim como os demagogos são filhos do mesmo pai, Salazar.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Cowspiracy ou o principio da consciência?




Na semana passada tive a oportunidade de assistir a um debate sobre vegetarianismo, veganismo, no Saldanha Residence. Tudo após um filme que tem levantado muitas reflexões e discussões acesas, o “Cowspiracy”. Infelizmente não assisti à sua exibição, porque já não havia bilhetes. No entanto, o debate era aberto a todos o que desejaram participar. Sei que a temática da fita é o poderio agroalimentar e tudo o que envolve as produções relacionadas com as vacarias. Discussões sobre o excesso de produção animal, o desrespeito pelos animais, as alterações que sofrem os produtos derivados (carne, leite, etc) e as suas consequências na saúde animal no seu todo, as alterações ambientais derivadas deste excesso de produção, e a cegueira das autoridades, das sociedades e das ONGs ambientais perante este drama, perante este problema. Não quero estar a falar de cor sobre o filme, mas fiquei com a ideia de serem os temas principais e polémicos.
No debate, onde participou uma figura nacional conhecida, João Manzarra, recentemente se tornou vegan, depois de ter visionado o dito filme, imperou na maioria sobre o ser ou não vegetariano/ vegan.
Houve intervenções mais ou menos utópicas, desde aqueles que achavam que o mundo devia ser todo vegan ( leia-se que é a opção em que nada animal pode ser consumido, incluindo até a roupa e seus derivados), outros que falaram do facto de um vegetariano ainda ser visto como um alienígena, até às dietas/ modos de vida vegetarianos que se deve reger alguém que opte por tal.
A alimentação é um bem essencial na nossa existência. Somos o que comemos, sem duvida. Hoje as consequências dessas mesmas opções alimentares trazem-nos benefícios ou doenças, muitas delas mortais. No entanto, penso que a alimentação é apenas uma das partes de uma enorme árvore que constitui este tema. A raiz, o principio de tudo, chama-se consciência própria. É ai que reside o inicio de cada opção. É aqui que devem surgir respostas a questões como:
Quem sou eu no mundo?
Qual a minha posição sobre a existência de outros animais, como eu?
Qual a minha visão sobre o lugar que devem ocupar cada animal no mundo em que vivo?
Qual a minha relação com os outros animais?
Qual a minha relação com o meio ambiente?
O que espero do meio ambiente?
E a pergunta das perguntas:
Qual o meu papel no meio ambiente, neste mundo, na relação com o Todo?
Não são perguntas fáceis, mas se o fossem, estou certo, que a Vida seria bem diferente para todos nós. Está aqui a discussão dos ditos direitos e deveres de todos e de tudo na Vida. Por isso é nestas questões que reside o principio dos nosso comportamentos. Muitos preferem virar as costas a elas, e olharem para o lado, ignorando e assobiando, por ser mais fácil, por ser menos trabalhoso pensar. Outros resolvem pensar desde cedo, e questionarem-se sem sacrifício e assim optarem por um modo de vida diferente, mais lógico e mais responsável para com o Todo e logo para consigo próprios.
Mas muitos dos que assobiaram para o lado durante muitos anos, chegam a um ponto em que se questionam, independente de ser tarde ou não. E quando o fazem esbarram nas questões, na consciência própria. E é aqui que tudo deve começar.
As respostas podem levar horas, dias, meses ou anos, o tempo é algo que não deve ser contabilizado, as respostas é que são o fundamental. Depois delas virá a consciência, o conhecimento. Este, por vezes cruel e duro, vai construir um pensamento, uma descoberta, um caminho. Este é que vai determinar comportamentos, mas sempre baseados numa mudança. A alimentação aqui é que entra. Com isto não digo que o caminho será o vegetarianismo ou o veganismo, não. Sempre defendi um mundo equilibrado, e esse equilíbrio tem de passar por um mundo animal herbívoro, vegetariano, vegano e carnívoro. Não se pode entrar em utopias sem sentido, de uma humanidade apenas vegana, por mais que defendamos que um dia o homem já foi herbívoro. Estamos a transformar todo este mundo animal? Sim. O homem é responsável pelo desequilíbrio animal e ambiental? Sim, com todas as letras. E qual uma possível saída para tudo isto? Anos, décadas, gerações, mudanças de consciências relativistas e colectivas para a consciência individual e responsável, sociedades baseadas em cada individuo é um individuo e responsável pela sua parte na sociedade e não pelo caminho de que todos somos um grupo e todos somos responsáveis uns pelos outros...o que leva a que ninguém é responsável, ou seja, ao relativismo irresponsável.
Pensem, construam a vossa própria consciência, sem medo, sem receios por mais que doa, por mais que choque. Construam uma responsabilidade vossa, deem-na a conhecer aos outros, fundamentada, e façam-se respeitar, respeitando os outros, sejam eles homens e mulheres, gatos e cães, vacas e bois, leões e gazelas, vegetais e árvores, etc. Todos existimos por um propósito, não existimos por um direito de presunção. Existimos pelo dever de sabermos ser responsáveis pela defesa da existência do Todo. Ser carnívoro, ser vegetariano, ser vegano, ser defensor do ambiente, ser inimigo do ambiente, ser político, ser civil, ser selvagem, ser vivo é uma responsabilidade única. Ponto final. Não existe mas e meio mas. Mas deve ser assumido com honestidade, respeito e fundamentado. Não podemos ir em modas, em ir em desrespeitos gratuitos. Isso é o principio da falta de consciência. E não podemos ser extremistas. O extremismo é uma forma de irresponsabilidade, de incoerência.
Eu? Estou a questionar-me, a rever os meus princípios para com tudo o que me envolve, a perceber comportamentos meus, a perceber a minha alimentação, a perceber a minha visão do mundo. Reajustei a minha alimentação, reajustei as minhas atitudes para com todos os animais incluindo o homem, reajustei a minha visão para com o que me circunda. Com respeito, com o dever de cumprir  as minhas responsabilidades. Sou a favor de um equilíbrio de forças, onde espetáculos como touradas, circos com animais, zoos e outros iguais não fazem sentido nenhum. O animal mais próximo, mesmo que seja homem não é um artefacto de diversão, mas sim um principio de vida. E aqueles homens que fazem acrobacias, que participam em circos de animação, ou mesmo em espetáculos de diversão, lembrem-se que não podemos defender que somos pensantes apenas para umas coisas. Eles são-no por opção, e os outros animais são-no por opção deles ou por nossa? A resposta é óbvia, não? Também não faz sentido a moda dos animais domésticos, o pavonear de uma submissão por parte de outro animal perante o homem. Domésticos somos todos aqueles que co-habitam com amor, carinho e respeito. Sejamos homens, gatos, cães, ou outro animal. E existem muitos que não nasceram para serem caseiros, o seu doméstico é o ar livre, serem livres. Afinal nascemos para sermos isso mesmo, livres. Todos. Utópico? Sim, isto sim é uma das maiores utopias, mas é o sonho não realizado na nossa existência, o dever de encontramos e olharmos a vida como ela é e não como queremos que ela seja. Ela nasceu primeiro, sempre, nós apenas somos parte desse nascimento.
Sou a favor de uma alimentação equilibrada, onde estou a reduzir bastante o consumo de carnes e seus derivados. Continuo com o consumo de peixe e seus derivados, sim, mas estou a questionar reduzir também. Se vou ser vegetariano um dia, ou mesmo vegano? Não sei. Agora o que me importa, é assumir a responsabilidade que me foi imputada por estar vivo. Para isso continuo a construir a minha consciência individual, responsavelmente.
Qual é o medo de pensar por si próprio?

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

As Leis da Selva - Texto de João Pereira Coutinho na Folha de S. Paulo



Terroristas encapuzados atacam um jornal satírico francês. Matam dez jornalistas e dois policiais. Nos minutos seguintes, nas horas seguintes, nos dias seguintes, os sábios mentecaptos que ajudaram a criar o caldo relativista em que os fanáticos cresceram e prosperaram cumprem essas cinco leis (sem exceção):
1ª lei - Não importa se o sábio mentecapto é ateu, agnóstico ou crente. De joelhos, ele reza a todos os santos para que os autores da chacina não sejam muçulmanos. O ideal era que fossem judeus (de preferência israelenses) ou, vá lá, cristãos. Alguns dos sábios, apesar de praticarem ioga, não se importariam que o terrorismo fosse budista, só para variar: dois monges com os ensinamentos do Dalai Lama debaixo do braço matando toda a gente com um "mantra" assassino.
2ª lei - É oficial: os terroristas professam a religião islâmica e afirmam, orgulhosos, que mataram em nome do profeta. Os sábios mentecaptos sofrem um leve desmaio.
3ª lei - Reanimados com teses de doutorado instantâneas sobre "islamismo", os sábios mentecaptos começam a disparar que não é legítimo fazer qualquer identificação entre "islã" e "terrorismo". O fato de os terroristas terem expressamente usado o Corão e o nome do profeta para realizarem os seus massacres nem sequer deve ser mencionado. Somos nós, ocidentais, que confundimos as coisas, nunca eles.
4ª lei - Procurar causas exteriores para explicar o massacre. Pode ser o defunto George W. Bush. Ou então é a "islamofobia" que "marginaliza" os marginais. Alguns dos sábios mentecaptos chegam mesmo a comparar a situação de exclusão dos muçulmanos que hoje vivem na Europa com os judeus do gueto em plena 2ª Guerra Mundial. Compreende-se: os judeus eram enfiados em guetos pelos nazistas porque, como todos sabemos, alguns deles tinham por hábito plantar bombas ou matar civis em nome de uma interpretação radical da Torá.
5ª lei - Culpar as vítimas. No caso do jornal "Charlie Hebdo", as vítimas eram jornalistas, cartunistas e policiais. Todas elas têm culpas repartidas. Os policiais porque representam a face visível da repressão (aqui, o sábio mentecapto cita Zizek). Os jornalistas e os cartunistas porque excederam os "limites" e não mostraram "deferência" pela sensibilidade dos fanáticos.
Daqui a uns dias, daqui a uns meses, daqui a uns anos, quando surge novo massacre, o sábio mentecapto regressa à lei nº 1 e repete todos os passos com igual coerência.
Perante isso, qual deveriam ser as cinco leis que uma pessoa racional deveria exibir perante a chacina de Paris? Arrisquemos:
1ª lei - Reconhecer que existe uma desproporção entre atentados terroristas com caução islâmica e atentados terroristas motivados por outras questões (nacionalistas, étnicas etc.). Quando existe um atentado com os contornos do parisiense, é legítimo presumir que o terrorismo islamita está de volta.
2ª lei - Não desmaiar com o fato. Procurar entendê-lo: saber como e onde se radicalizaram os assassinos –na França ou no exterior? E, dependendo das respostas, saber como foi possível o florescimento de uma indústria de ódio dentro das portas ou como se permitiu a entrada nas fronteiras de quem aprendeu a lição fora delas.
3ª lei - Existe uma relação entre "islã" e "terrorismo" que é estabelecida pelos próprios terroristas. Isso cria um problema à religião muçulmana e obriga os líderes religiosos a condenar enfaticamente quem comete tais "heresias". O xeque da mesquita de Lisboa, por exemplo, disse sobre o assunto: "Se eles não estão satisfeitos em viver num país liberal, podem emigrar e deixar-nos em paz". É a resposta de um homem corajoso e bom.
4ª lei - Não procurar causas exteriores ao massacre. Elas não existem. O que existe é um fanatismo semelhante aos totalitarismos do século 20: o mesmo ódio à liberdade e a mesma pretensão em submeter a sociedade a uma utopia de trevas.
5ª lei - As vítimas são vitimas. Se o islã ainda não teve a sua Reforma (e o seu Iluminismo), problema dele. O "Charlie Hebdo" usava ácido sulfúrico sobre cristãos, judeus, muçulmanos, hindus, animistas ou druídas. Se isso fere a "sensibilidade" dos crentes, eis o preço a pagar para quem deseja viver no século 21 –e não na Idade Média.

In Folha de S.Paulo, artigo de João Pereira Coutinho.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Je suis





Je suis Charlie.
Je suis Syrian.
Je suis Iraquien.
Je suis Nigerian.
Je suis de partout dans le monde.

Assistimos, na semana passada, a mais um ataque terrorista. Assistimos incrédulos, na Europa das referencias, a mais uma chacina de inocentes, que procuram viver e exprimir um dos maiores valores das sociedades modernas, a liberdade de expressão. Assistimos à brutalidade com que foram executados estes mesmos inocentes. E quero realçar a palavra inocente. Muito se falou, por essas redes sociais de que o Charlie Hebbo se colocou a jeito de ser atacado, pelos desenhos infames que costumava publicar. Mas de infame apenas me recordo serem aqueles que, hipocritamente, já se esqueceram de todos os que padeceram em campos de batalha, em manifestações, em greves, em revoltas, tudo pela conquista da liberdade de expressão. A mesma que lhes permite emitir uma opinião, mesmo em contraditório, sobre este assunto ou outro qualquer, às pessoas conhecidas, nas redes sociais, em jornais, enfim, opinar. Pois, foi precisamente contra essa liberdade que os fundamentalistas atentaram. Não foi contra desenhos, que não deixam de ser desenhos. Não foi contra os cartoonistas, porque outros virão, por mais frias que possam parecer estas palavras, mas é a verdade. Não foi contra um jornal, porque jornais não deixaram de existir. Não. Foi contra a liberdade de expressão, a liberdade que nos permite exprimir um nome, de gritar uma ideia, de desenhar uma opinião, de cantar uma revolta. Foi isso que os fundamentalistas quiseram calar.
Vivemos em sociedades modernas, onde as liberdades adquiridas são verticais, pois são transversais a todos os que compõem as ditas sociedades. Por isso, por exemplo, numa situação de crise, podemos assistir a greves, a manifestações, a eleições, a debates, à criação de movimentos, enfim a uma série de transformações que só vivendo numa liberdade de expressão se pode ter acesso. Vivemos também numa sociedade regulada, não de forma perfeita, mas regulada no sentido da ordem, de instituições e de pessoas. Todas estas liberdades são proibidas num Estado Islâmico. Eles não permitem opiniões que não sejam as definidas pelos líderes, pelos clérigos islâmicos, que entre muitas atrocidades intelectuais, por exemplo, não reconhecem a existência da mulher como ser humano. E recorrem à chaira, que para perceberem o que significa, aqui fica o recurso à Wikipédia:
A charia é o corpo da lei religiosa islâmica. O termo significa "caminho" ou "rota para a fonte de água", e é a estrutura legal dentro do qual os aspectos públicos e privados da vida do adepto do islamismo são regulados, para aqueles que vivem sob um sistema legal baseado na fiqh (os princípios islâmicos da jurisprudência) e para os muçulmanos que vivam fora do seu domínio. A charia lida com diversos aspectos da vida quotidiana, bem como a política, economia, bancos, negócios, contratos, família, sexualidade, higiene e questões sociais.
Mais ainda, no fundamentalismo islâmico não existem diferenças entre o direito e o religioso, é tudo regulado pelo Corão. Eu não conheço o Corão, confesso, mas sei que recorrendo à História, o islamismo só soube recorrer a um conceito para atingir os seus meios, o sangue dos outros.
Duvidas sobre as diferenças?
Para mim nenhuma. Não podemos ceder ao medo. Um Coronel americano escrevia, após o conflito do Kuwait,  que a Terceira Guerra Mundial iria começar e iria ser a mais longa de todas, e seria contra o inimigo mais desumano e mais difícil de combater, a escuridão, o desconhecido, o inimigo dormindo com a sua vitima. É esta a realidade. e qualquer pessoa que se possa achar minimamente inteligente, não pode entrar pelas vias do “ eles colocaram-se a jeito” ou “ tudo isto foi orquestrado pelo ocidente”, como já havia lido com o 11/9 e agora com os atentados de Paris. Morreram inocentes em ambos os casos, não estamos a falar de um filme de grande ecrã e cheio de efeitos especiais. É a realidade. aos olhos do fanatismo islâmico somos todos infiéis, aliás, para eles os muçulmanos não fundamentalistas, os que creem em Alá como os cristãos em Deus e Jesus, estes também são vistos como infiéis, porque não se regem pelas leis que eles doutrinam. Existem muito boa gente no mundo Muçulmano, no mundo Árabe, nos países Árabes.  Aliás, muitos dos fundamentalistas, neste momento, já são ocidentais que se alistaram às fileiras deste movimento.
Podemos falar ainda da Siria, do problema do Iraque, do Afeganistão, da Nigéria e que todo este movimento não se deu aquando de atentados nesses países. Eu sou, como digo no inicio do texto, pelos que padecem às mãos destes terroristas. Eles lutam pela sua liberdade. E todos devem ser lembrados. Mas, temos de abordar a importância das referencias. Tal como nós as temos em termos pessoais, o mundo também tem essas mesmas referencias, e a Europa é essa referencia mundial. Por alguma razão, todos os povos de África e de países Árabes tentam a sua sorte neste continente das luzes.  E porquê? Referencia da liberdade. E foi neste continente, no pais onde nasceu um dos maiores símbolos da liberdade contemporânea,  num jornal que praticava essa mesma liberdade, através de um lápis, que estava já entregue ao pior dos juízos, o dos leitores, foi neste lugar onde foram cometidos, pela lei das armas, as atrocidades, a tentativa de calar a liberdade de expressão. A verdade é esta, mais nenhuma.
Não venham agora dizer que o problema é dos EUA, de Israel, ou que nem todos os jornalistas são Je suis porque não tem “tomates” de criticar os nossos governantes, ou mesmo como li hoje, que foi tudo orquestrado e é tudo uma farsa para desviar certas atenções... ou ainda que o problema é da austeridade...sobre a hipocrisia, escreveu William Shakespeare, “O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém”. Os que procuram as culpas naqueles que não os fundamentalistas, procuram apenas seguir a sua própria agenda intelectual, que à 2º, 3º e 4º a culpa é dos EUA e do capitalismo, e à 6º, sábado e domingo já é Israel, a própria França, o jornal e sei lá o quê mais...
Todos temos de assumir as nossas responsabilidades na sociedade, na liberdade.
Queres ser mesmo livre ou preferes afinal viver preso na hipocrisia?