quinta-feira, 30 de julho de 2015

De novo Incorrecto

Regresso aos textos deste blog. Após algum tempo ausente, regresso com textos mais curtos, com breves apontamentos de ideias politicamente e filosoficamente incorrectas.

Hoje começo com o acordo ortográfico. São imensos os portugueses que não concordam com tal acordo. Imensos que dizem não se reconhecerem em tal, e recusam-se a colocá-lo em pratica. Ora ainda bem. Afinal o português, leia-se língua, não está assim tão moribundo. É preceito de qualquer cultura a sua língua, identidade de linguagem que permite a expressão e a comunicação. Pois atalharmos a mesma por via da supressão fonética é um perfeito absurdo. Fato de acontecimento ser igual a fato de vestir é quase passar a conjugar um adjectivo como verbo. Este acordo é uma prostituirão da língua, umas das mais belas neste planeta, fonte literária e inspiradora da mais bela das ninfas...ok, perceberam que com o exagero da adjectivação o português é de facto uma linguagem única.
Mas...e existe sempre esta terrível palavra, também no português... Existe algo que não pode ser ignorado. Que este acordo, apesar de muito contestado, é o espelho da raiz do mal da nossa língua. Vivemos no país europeu que menos lê autores nacionais. Escuto mais críticas a José Saramago do que a E.L.James. Portugal tem as livrarias europeias com mais títulos internacionais...Estamos no país da Europa que menos filmes nacionais apoia. Estamos num dos países da Europa que mais nega a sua história...respondo já às críticas, pois dos momentos mais históricos que ouço da boca dos políticos, escritos e cantados nos jornais ou redes sociais, são o 25 de abril ou o 10 de outubro, que aconteceram no século passado...quantos séculos tem a História de Portugal? Parece que já esquecemos os programas deliciosos de José Hermano Saraiva.
Mas tudo isto tem um princípio. O nosso eterno, espero que não, sebastianismo. Por isso é que não me choca tanto este acordo. Sou desde o princípio contra ele. Mas o mesmo espelha quem somos culturalmente.

Países diferentes, as mesmas ideias. Falo da Grécia e de Portugal. Falo de outra fraqueza cultural, esta nossa infâmia de querermos sempre arranjar, ora os culpados ora os heróis, fora de Portugal. O culpado é a Alemanha. O culpado é a senhora Merckel. O culpado é o capitalismo selvagem praticado pelos grandes lobbys internacionais. O culpado é a Europa. O culpado é a falta de solidariedade europeia. O culpado ainda será, um dia, o gajo que criou isto tudo.
Por outro lado, o herói é o Tsirpas que se opõem à Alemanha... Mas depois leva ainda mais o seu país à ruína, porque afinal não é assim tão diferente dos outros. O herói é todo aquele que se levanta algures numa manifestação no centro da Europa, e grita "Liberdade"...ah se existe uma palavra cujo significado é tão pouco conhecido verdadeiramente e tão prostituída que és... O herói é aquele Nobel caviar que vem dizer que tudo o que nos desagrada está errado...mas sem nenhuma solução viável. O herói é todo aquele que emigra, e ainda no aeroporto dá uma entrevista com uma lágrima nos olhos porque está a ser expulso do seu país, e depois mais tarde aparece numa reportagem feliz e contente, porque está a ganhar mais do dobro que ganharia em Portugal...
O culpado somos nós, enquanto povo. Somos ingovernáveis e não nos deixamos governar. Ponto final. Somos o que somos. E enquanto não soubermos fazer uma verdadeira revolução individual e interior, nunca sairemos deste fado soberano. Os políticos? Somos nós. Enquanto tivermos demasiado caviar na forma de fazer política, com uma esquerda absolutamente gratuita de ideias, navegando ao sabor das vontades, e uma pseudo direita que apenas acha que liberalismo é deixar tudo na mesma, apenas fazendo de outra forma, nunca teremos lugar à mudança. Enquanto tivermos pessoas a achar que existe uma força contra os partidos da extrema esquerda , tentado negá-los à nascença, quando quase todos os dias surge um...
A Grécia é mesma situação. Muda o político, fica a mesma mer...sabem...
P.S. Para que conste...a Alemanha foi de facto muito ajudada no tempo pós-guerra, mas vão ler a história, algo difícil, e verificarão que eles fizeram os trabalhos de casa, construíram uma nação forte, sólida...à custa dos outros? Bem, se calhar não somos, enquanto pais colonialista que já fomos, os melhores para discutir isso, e depois se o fizeram, pelo menos cresceram e fortes...e nós? Somos prisioneiros de fantasmas...logo somos agora reféns e submissos às nações que outrora ajudamos pós-colonização...

Consciência. Termino com o vazio. Quem não lê, não vê, não ouve, não procura, não busca, não discute, não informa, não ama o que é seu, está condenado ao vazio, à não consciência. Fácil criticarmos, acreditarmos em promessas gratuitas, ideias levianas. Depois o resultado está à vista de todos. O mal não é do capitalismo, de bancos, de partidos, etc...o mal está no que pensamos como parte de um país. Quem somos enquanto portugueses?

"País não é uma simples fronteira que separa terrenos, mas sim uma união de consciências individuais."
Uiiii...vou ser condenado por blasfêmia...falei em consciências individuais...aí vem a esquerda dizer que sou mais um fascista puritano...nos dias de hoje...Ainda Bem! Pelo menos penso...logo existo.