Passaram 25 anos que caiu o muro em Berlim. 25 anos é 1/3 de século. 25 anos é
cientificamente o tempo em que o nosso corpo se desenvolve como jovem, a partir
daí começa a envelhecer. 25 anos são para muitos o tempo necessário para que
uma pessoa aprenda e apreenda uma formação académica. 25 anos são bodas de
prata. 25 anos... depois de Berlim pensou-se num mundo novo, mas de facto vivemos
num mundo demasiado velho em termos de género e de vida.
Começo pelo género. Homem e Mulher. Mulher e Homem, como
desejarem. Vivemos num século que pensamos designar como o mais avançado de
todos os tempos, aquele em que a maioria dos obstáculos à liberdade foram todos
ultrapassados... e tão enganados que andamos. Penso que vivemos talvez num dos
séculos mais escravizados que pode haver memória na nossa História. Vivemos a
escravidão interior. Temos e detemos o conhecimento, mas não somos capazes de
retirar dele o melhor que nele habita. Vivemos num século após outro, onde o
Homem já há muito que chegou à Lua, após
aquele onde construiu também uma estação espacial, após aquele onde descobriu a
erradicação para doença endémicas, após aquele onde sobreviveu a duas grandes
guerras e reconstruiu-se de novo... mas vivemos num século onde todo este
conhecimento, e o que os outros criaram, está envolto numa hipocrisia gritante.
E a diferença dos géneros é um dos maiores exemplos. Sabemos, pelo passado, que
durante muito tempo a Mulher foi, em muitas culturas, um objecto, algo que apenas
servia para procriação. Um sujeito menor, uma palavra de uso e abuso sexual, uma
escrava. Foi o Ser Humano que mais escravidão sofreu ao longo dos séculos.
Poucas foram as culturas, que no decorrer dos seus tempos, se libertaram da
idiotice da submissão dos géneros, abolindo o poder dos Homens e dando
igualdade de direitos e oportunidades aos dois géneros, masculino e feminino.
Aliás, direi que raras foram as culturas que o fizeram durante os séculos. A
Europa pode apresentar alguns casos de monarquias matriarcais, mas que depressa
se esvaziaram. Engraçado, pois um dos maiores obstáculos à igualdade de géneros
passou pela igreja, pelas crenças religiosas, ainda hoje subsistem em alguns
credos, como o islâmico, e de forma perversa.
Mas Jesus, símbolo máximo do Catolicismo, sempre se rendeu às mulheres,
começando por sua mãe, Maria, simbolizando-a como o principio de tudo que
existe no mundo. O que a idiotice do Catolicismo veio depois tentar desmontar
com uma história repleta de hipocrisia, a de Adão e Eva, onde foi a Mulher quem
pecou primeiro ao comer da maçã, e daí surgir o pecado. Afinal, ser Mulher é
ser pecado. Não, ser Mulher é ser Humana, como ser Homem é ser Humano. Ponto
Final.
E chegamos ao século XXI, 25 anos após ter caído o muro que
separava homens e mulheres na mesma cidade. E 25 anos após encontramos ainda um
dos maiores muros que a memória histórica pode escrever, a desigualdade de
géneros. E tudo camuflado pelo conhecimento hipócrita das sociedades ditas
contemporâneas. Todas elas sabem que existem culturas que nem reconhecem a
Mulher como algo da existência da Vida, mas desculpam-se pelo respeito às
culturas. Mas o primeiro dos respeitos culturais não é o respeito pela
existência na Vida? A Mulher existe tanto como o Homem. Ponto Final.
Todas elas sabem que existem credos que não reconhecem a
Mulher a não ser como um objecto de procriação, um objecto de pecado, um
objecto de distração, um objecto de submissão. E continuam a esconder-se na
máxima de que podem-se libertar os povos pelo petróleo, mas não se deve
libertar os povos dos credos que as amordaçam e escravizam? A Mulher não é um
objecto de nada, é um Ser Humano como o Homem. Ponto Final.
Todas elas sabem que continuam a existir a convivência entre
a Mulher e o seu assassino, que a violência domestica é cada vez mais
abrangente, pois o crescente descrédito nas instituições judiciais e
educacionais, tem criado verdadeiros monstros hediondos, que massacram a
existência de supostas famílias desgraçadas pelo murro e o pontapé, o sangue e
a dor. E assim crescem novas crianças que poderão ser num futuro, novos
promotores desta estúpida relação de géneros. E o que fazem as sociedades?
Viram a cara, numa suposta ideia de que o problema não é deles... procuram
desdramatizar com métricas de involução dos casos, quando o sofrer em silêncio
é cada vez maior...e pior, chegam mesmo a desvalorizar estas situações como
sendo meros momentos de “perda da racionalidade”, sendo apenas episódios
esporádicos ( por favor, estes assuntos não são meros circos, são sérios, são
sobre o que de mais sério existe, a Vida em si)...ou seja, o que elas fazem é preferir
viverem na hipocrisia em vez de combaterem o mal pela raiz. Que raiz? A
liberdade individual é apenas um mero direito de existência humana, logo o
respeito por essa liberdade deve prevalecer a ambos os géneros. Ponto final.
Isto tem de ser lei Humana e não Social. Logo, daqui tem de resultar uma
educação baseada nos conceitos mais primitivos da liberdade individual:
respeitar e aceitar. Respeitar a igualdade de existência, e aceitar a diferença
de existência. Quando somos concebidos não existe Mulher e Homem, existe Ser
Humano. Quando morremos, não existe Mulher e Homem, existe cadáver. A Mulher e
o Homem são apenas o que vivem, seres que co-habitam o mesmo mundo. São as
memórias e as estórias. Logo deve ser aceite a diferença no género, no sexo, na
forma de estar, de vestir, de viver e conviver, nas escolhas. A diferença,
aliás, deve ser aceite em tudo, como uma mera normalidade existencial. Ponto
final.
E por fim, a liberdade individual deve assentar na igualdade
de género. As mesmas oportunidades, os mesmo direitos e deveres, as mesmas
responsabilidades... mas é aqui onde a hipocrisia atinge patamares de
excelência. Mas agora falo contra os dois géneros. Aqui a liberdade individual
é amordaçada, assassinada, e jogada aos confins do inferno. Por um lado, as
Mulheres continuam a não ter as mesmas oportunidades que os Homens, porque
engravidam, porque tem diferenças físicas, porque são vistas como meros
objectos sexuais. As empresas escondem-se atrás de desculpas para admitirem
mulheres, tudo porque uma gravidez pode trazer falta de retornos aos seus
lucros. Pergunta para queijo: Os homens que decidem estes lugares, que são
pais, dizem amar os filhos, e eles nasceram de onde? Da cegonha que vem de
muito longe?...
Por outro lado, critico as Mulheres que abusam do seu cariz
mais sex-appeal, para se autopromoverem e conseguirem subir dentro das
empresas, procurando o sexo como meio de atingirem os seus objectivos maiores.
Quem deseja atingir a igualdade deve usar do exemplo, contrariando toda a
mescla de subterfúgios imundos para atingirem o poder. Mas esta conversa serve
para outro muro: o da luta pelo Poder.
Finalizo dizendo que vivemos 25 anos depois da queda do muro
da vergonha. Mas continuamos a viver em vergonha, com a desigualdade dos
géneros, com a escravatura interior de cada um de nós, que sabemos e temos
consciência do problema, mas viramos a cara, sorrimos e seguimos de lado, para
não nos identificarem com alguém que simplesmente é igual ao seu próximo, pois
é um Ser Humano, ainda antes de ser Mulher.
Não à submissão feminina. Não à violência doméstica. Não à
violação sexual. Não ao muro da vergonha, ao muro da hipocrisia.
No próximo muro falarei da Vida. Animal. Do muro onde o
Homem não respeita o que mais valioso a existência tem, a Vida, seja ela qual
for. Que a desonra com o intuito de criar uma mera industria faminta, e um
estúpido divertimento.
Por agora, termino apenas com o meu maior respeito por todas
as mulheres deste mundo. Que um dia este muro caia de vez.