segunda-feira, 17 de junho de 2013

Pais dos quintais...








Somos um país num quintal. E temos esse quintal dividido em várias quintinhas, umas 10 milhões de quintinhas, mais coisa menos coisa... bem, talvez menos, porque não posso incluir aqueles que ainda nem sabem em que país vivem.
Mas é da nossa cultura vivermos dentro do dito quadrado, o quintal próprio, de onde apenas conhecemos os seus limites e nada mais para fora.  

Hoje houve greve dos professores. Não podia deixar de falar neste quintal.  Não querer alongar-me na discussão de ambos os lados, ou dos quatro lados, professores, ministro, pais e alunos... são apenas meras circunstâncias de quintal, hortas que são cultivadas e cultivadas sem darem nenhum tipo de fruto.
Gostava apenas de falar deste assunto como mais um dos muitos exemplos de desonestidade intelectual que é praticada neste país de quintas, a dita hipocrisia.
Primeiro: esta greve, como todas as outras, nunca defende interesse algum que não seja o ideológico, pura e simplesmente. Não falamos dos reais interesses nacionais, do elevado interesse de melhor educação, formação, exigência e competência. Não. Falamos de ideais político-filosóficos, ideologias de esquerda e direita. O punho de ferro é, apenas e só, esse. Engane-se aquele que ainda acha, na ignorância dos deuses, que estas greves são campos de batalha por um mundo melhor. Elas defendem o espaço político e só isso. O interesse nacional fica perdido no tempo.
Segundo: esta greve vem provar mais uma vez a ideia do egoísmo hipócrita e cínico das quintinhas. Vivemos numa crise que nos afunda e nos assusta todos os dias.  Essa ideia é vivida e sentida a todo o momento.  Mas o que continuamos a ver, é a luta de interesses sectoriais e não a luta dos interesses gerais na procura de uma saída para todos e com todos. Os professores puxam para os professores, os enfermeiros para os enfermeiros, os médicos para os médicos,  etc, etc. E a luta centra-se apenas no aparelho Estado, na profissão Estado e resume-se a ela. Fica o privado perdido numa amálgama de sofrimento e ansiedades, em busca de soluções próprias, e sem o apoio honesto daqueles que nem ainda imaginaram o que é, de facto, viver o Fantasma do Desemprego... e de tudo o que isso engloba.

Vivemos num país tão desonesto... exemplos:

1.     Temos um Tribunal Constitucional que fala de igualdade... desonestamente, sendo ele um dos exemplos de órgãos de soberania que é o principio da desigualdade...
2.     Temos políticos, ex-politicos, comentadores de fim de semana e de semana também, que sendo defensores da Democracia, exigem a destituição de um Governo eleito democraticamente.. só porque não lhes convém ou não concordam com as suas politicas... que desonestidade quando depois defendem a Democracia...
3.     Temos um ministro das Finanças que erra previsão atrás de previsão, mas depois diz que a culpa do não crescimento económico é da chuva... e os países nórdicos, como é que é? Desonestidade....
4.     Temos uma oposição que sabe que o barco se está a afundar, em especial o PS e o seu Seguro, no entanto, vestem o fato de gala, como se nada de mal estivesse a acontecer, e ainda tem o mau carácter desonesto de procurar o discurso populista barato... e nem falo mais à esquerda...
5.     Mas talvez uma das maiores desonestidades é uma grande fatia da comunicação social, também ela muito dirigida por ideologias politicas, que manipula informações, interesses, e esvazia consciências.
6.     No fim, a desonestidade das pessoas, que não querem parar para pensar, para construírem um pensamento próprio, desenvolvê-lo, desprenderem-se do politicamente correcto, e ganharem uma consciência própria... em vez de abarcarem pelos Big Brothers e Saltos de piscina, à procura de uma lágrima gratuita, símbolo da mesma que adoravam poder jorrar, mas nem isso tem a coragem de o fazer... as pessoas estão a ser desonestas consigo próprias, ao abdicarem do seu pensamento. E ainda embarcam em comentários e “likes” de frases e ideias postadas em redes sociais, sem muitas vezes saberem o que discutem ou o seu fundamento. É a ideia do contra, só isso... afinal pensar por si próprio custa muito, ser inerte e preguiçoso é mais fácil...ser presa dos pensamentos dos outros é aparentemente mais cómodo...


E ainda se fala de liberdade neste país, de desonestos... James Allen escreveu um dia, no seu belo livro “Pensamento de um Homem”:
“ Um Homem de carácter forte não poderá ajudar um que seja fraco, a menos que este esteja receptivo a essa ajuda, mas mesmo assim, o homem fraco tem de passar a ser forte pelos seus próprios meios (...) Ninguém, além de si próprio, poderá alterar a sua condição.
É comum que as pessoas pensem e digam: <<Muitos homens são escravos por haver um que é opressor; assim, devemos odiar o opressor.>>. No entanto, existe entre uns quantos, que são cada vez mais, uma tendência para reverter este juízo de valor  e dizer: << Um Homem é o opressor por muitos serem escravos; assim, devemos desprezar os escravos.>>
A verdade é que o opressor e os escravos são cooperadores em ignorância, e, embora pareça que estão a atormentar-se uns aos outros, na realidade, atormentam-se a si próprios. (...) Aquele que conseguiu conquistar a fraqueza, e afastou de si todos os pensamentos egoístas, não pertence ao opressor nem tão pouco ao oprimido. É livre. “

Eu termino afirmando:
“Aquele que consegue viver fora das quintas e dos quadrados colectivos, procurando o saber individual em prol de um bem colectivo responsável individualmente, poderá de facto encontrar a liberdade e a honestidade intelectual.”