Somos um país num quintal. E temos esse quintal dividido em
várias quintinhas, umas 10 milhões de quintinhas, mais coisa menos coisa...
bem, talvez menos, porque não posso incluir aqueles que ainda nem sabem em que
país vivem.
Mas é da nossa cultura vivermos dentro do dito quadrado, o
quintal próprio, de onde apenas conhecemos os seus limites e nada mais para
fora.
Hoje houve greve dos professores. Não podia deixar de falar
neste quintal. Não querer alongar-me na
discussão de ambos os lados, ou dos quatro lados, professores, ministro, pais e
alunos... são apenas meras circunstâncias de quintal, hortas que são cultivadas
e cultivadas sem darem nenhum tipo de fruto.
Gostava apenas de falar deste assunto como mais um dos
muitos exemplos de desonestidade intelectual que é praticada neste país de
quintas, a dita hipocrisia.
Primeiro: esta greve, como todas as outras, nunca defende
interesse algum que não seja o ideológico, pura e simplesmente. Não falamos dos
reais interesses nacionais, do elevado interesse de melhor educação, formação,
exigência e competência. Não. Falamos de ideais político-filosóficos,
ideologias de esquerda e direita. O punho de ferro é, apenas e só, esse.
Engane-se aquele que ainda acha, na ignorância dos deuses, que estas greves são
campos de batalha por um mundo melhor. Elas defendem o espaço político e só
isso. O interesse nacional fica perdido no tempo.
Segundo: esta greve vem provar mais uma vez a ideia do
egoísmo hipócrita e cínico das quintinhas. Vivemos numa crise que nos afunda e nos
assusta todos os dias. Essa ideia é
vivida e sentida a todo o momento. Mas o
que continuamos a ver, é a luta de interesses sectoriais e não a luta dos
interesses gerais na procura de uma saída para todos e com todos. Os
professores puxam para os professores, os enfermeiros para os enfermeiros, os
médicos para os médicos, etc, etc. E a
luta centra-se apenas no aparelho Estado, na profissão Estado e resume-se a
ela. Fica o privado perdido numa amálgama de sofrimento e ansiedades, em busca
de soluções próprias, e sem o apoio honesto daqueles que nem ainda imaginaram o
que é, de facto, viver o Fantasma do Desemprego... e de tudo o que isso
engloba.
Vivemos num país tão desonesto... exemplos:
1.
Temos um Tribunal Constitucional que fala de
igualdade... desonestamente, sendo ele um dos exemplos de órgãos de soberania
que é o principio da desigualdade...
2.
Temos políticos, ex-politicos, comentadores de
fim de semana e de semana também, que sendo defensores da Democracia, exigem a
destituição de um Governo eleito democraticamente.. só porque não lhes convém
ou não concordam com as suas politicas... que desonestidade quando depois
defendem a Democracia...
3.
Temos um ministro das Finanças que erra previsão
atrás de previsão, mas depois diz que a culpa do não crescimento económico é da
chuva... e os países nórdicos, como é que é? Desonestidade....
4.
Temos uma oposição que sabe que o barco se está
a afundar, em especial o PS e o seu Seguro, no entanto, vestem o fato de gala,
como se nada de mal estivesse a acontecer, e ainda tem o mau carácter desonesto
de procurar o discurso populista barato... e nem falo mais à esquerda...
5.
Mas talvez uma das maiores desonestidades é uma
grande fatia da comunicação social, também ela muito dirigida por ideologias
politicas, que manipula informações, interesses, e esvazia consciências.
6.
No fim, a desonestidade das pessoas, que não
querem parar para pensar, para construírem um pensamento próprio,
desenvolvê-lo, desprenderem-se do politicamente correcto, e ganharem uma
consciência própria... em vez de abarcarem pelos Big Brothers e Saltos de
piscina, à procura de uma lágrima gratuita, símbolo da mesma que adoravam poder
jorrar, mas nem isso tem a coragem de o fazer... as pessoas estão a ser
desonestas consigo próprias, ao abdicarem do seu pensamento. E ainda embarcam
em comentários e “likes” de frases e ideias postadas em redes sociais, sem
muitas vezes saberem o que discutem ou o seu fundamento. É a ideia do contra,
só isso... afinal pensar por si próprio custa muito, ser inerte e preguiçoso é
mais fácil...ser presa dos pensamentos dos outros é aparentemente mais
cómodo...
E ainda se fala de liberdade
neste país, de desonestos... James Allen escreveu um dia, no seu belo livro
“Pensamento de um Homem”:
“ Um Homem de carácter forte não
poderá ajudar um que seja fraco, a menos que este esteja receptivo a essa
ajuda, mas mesmo assim, o homem fraco tem de passar a ser forte pelos seus
próprios meios (...) Ninguém, além de si próprio, poderá alterar a sua
condição.
É comum que as pessoas pensem e
digam: <<Muitos homens são escravos por haver um que é opressor; assim,
devemos odiar o opressor.>>. No entanto, existe entre uns quantos, que
são cada vez mais, uma tendência para reverter este juízo de valor e dizer: << Um Homem é o opressor por
muitos serem escravos; assim, devemos desprezar os escravos.>>
A verdade é que o opressor e os
escravos são cooperadores em ignorância, e, embora pareça que estão a
atormentar-se uns aos outros, na realidade, atormentam-se a si próprios. (...)
Aquele que conseguiu conquistar a fraqueza, e afastou de si todos os
pensamentos egoístas, não pertence ao opressor nem tão pouco ao oprimido. É
livre. “
Eu termino afirmando:
“Aquele que consegue viver fora
das quintas e dos quadrados colectivos, procurando o saber individual em prol
de um bem colectivo responsável individualmente, poderá de facto encontrar a
liberdade e a honestidade intelectual.”