sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Políticamente Correcto

Definição de Politicamente Correcto. Vladimir Volkoff, doutorado em Filosofia e parente de Tchaikovsky, é um dos escritores melhor posicionados a explicar o conceito que conhecemos como “politicamente correto”, tema de seu último livro publicado pela Editions du Rocher: “La désinformation par l’image”.
Segundo Vladimir Volkoff – "O politicamente correto tal como o conhecemos hoje, representa a entropia do pensamento político. Como tal, é impossível defini-lo, pois carece de um verdadeiro conteúdo. O seu fundamento básico é aquele do “vale tudo”. Nele encontramos restos de um cristianismo degradado, de um socialismo reivindicativo, de um economicismo marxista e de um freudismo em permanente rebelião contra a moral do ego. Se compararmos a demolição do comunismo com uma explosão atômica, diríamos que o politicamente correto constitui a núvem radioativa que acompanha a hecatombe."
Gostava desde já pegar no "vale tudo", para dizer que o governo que acaba de tomar posse é o governo do Políticamente correcto. Desde logo os acordos. Três acordos e não um a bem do país. Logo, três diferentes maneiras de governar o país. Depois as escolhas dos ministros e outros membros. O mais importante, até para toda a panóplia de militantes do PC( leia-se Politicamente Correcto), é termos pessoas no governo que se diferenciam pela cor, ou pela etnia ou mesmo pela invisualidade. Ainda se chega à contabilidade de paridade e outros afins. Do profissionalismo, das capacidades individuais e respectivas qualidades de cada um dos membros não vale a pena falar. Isso são outros rosários. O que interessa é mostrar a tal "diferença" que uma suposta ideia de um país livre pode mostrar, sem preconceitos ou xenofobias. Pois bem, a mera discussão sobre estas diferenças é o alimentar de todo o preconceito e xenofobia. Que me interessa se uma mulher vê ou não? Ela é capaz? Óptimo, ponto final, o resto são restos do PC. Faço uma nota que de facto também é necessário destacar estes elementos, para desviar as atenções da presença governaria de pessoas que são verdadeiros sobreviventes no Job for the Boys...Augusto Santos Silva? Eduardo Cabrita?... Por favor. Estes sim e outros mais, devem ser discutidos. Assim como os casais de ministros, os pais e filhos, os jogos de interesses... Mas noto ainda mais um dado. As escolhas das diferenças são meros jogos do PC no seu melhor, de forma não a mostrar uma diferença, mas a decapitar desde logo qualquer tipo de incursão à crítica a estes membros, pois serão sempre vistos como posições xenófobas e preconceituosas.
Mas continuando no PC, Vladimir Volkoff refere ainda que - "O politicamente correto consiste na observação da sociedade e da história em termos maniqueístas. O politicamente correto representa o bem e o politicamente incorreto representa o mal. O sumo bem consiste em buscar as opções e a tolerância nos demais, a menos que as opções do outro não sejam politicamente incorretas; o sumo mal encontra-se nos dados que precederiam à opção, quer sejam estes de caráter étnico, histórico, social, moral ou mesmo sexual, e inclusive nos avatares humanos. O politicamente correto não atende à igualdade de oportunidade alguma no ponto de partida, mas ao igualitarismo nos resultados no ponto de chegada."
Termino só com mais uma ideia. Ainda hoje o se. Costa passeou-se em carro eléctrico, um bem altamente caro para o país, mas que fica bem, pois é defensor da ideia de defesa do meio ambiente. Mais ainda, no seu programa de governo resolveu agradar aos poucos eleitores do PAN e incluiu partes do programa deste. Ainda vou ver o sr. Costa a beijar um cãozinho de manhã e a assistir uma tourada à tarde. Ou mesmo a fazer campanha pelo veganismo ao pequeno almoço e a jantar um belo bife de vaca. E poderia continuar. Afinal temos o melhor dos PM, o verdadeiro do PC...vale tudo para agradar a Gregos  e a Troianos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Terror sem valor

E morreram mais de 120 inocentes em Paris, somados a mais e mais inocentes em Beirute, Quênia, Tunísia, num avião russo e outros tantos locais. Inocentes que padeceram às mãos de um fundamentalismo intolerante, vazio na história que defende, absolutista na estratégia que implanta, irresponsável nas ideias que transparece. Assim é o Estado Islâmico. É assim que vai continuar a ser.
Não vale a pena andar com meios termos, com desculpas nas razões que levaram à sua implantação, com puridos excessivos em desculpá-los. Como também não basta andar com lágrimas, bandeiras ao vento, manifestações aos milhares, movimentos altruístas nas redes sociais, abaixos assinados ou mesmo discursos puritanos. Eles não têm piedade. Eles não toleram a tolerância, a pluralidade, a liberdade. Eles são defensores de uma só cultura, mas sem cultura. Eles não ficam enternecidos com ajudas a refugiados ou com apelos à paz. Eles não têm o preceito do respeito ou do implorar. Eles negam a história, negam as origens humanistas, filosóficas e sociais do Ocidente. Eles negam as igualdades de género, de opções, de gostos. Eles são absolutista, são megalómanos no absolutismo déspota. Tudo o resto são palavras que o vento leva.
E só existe uma forma de os combater. Ser radical. Eu sou radical. Sim, assumo com toda a franqueza que sou radical, fundamentalista.
Sou-o na defesa dos meus valores: Liberdade, Pluralidade, Democracia, Tolerância, Igualdade ( nos direitos, deveres e oportunidades apenas), Responsabilidade.
Sou defensor de mais liberdade, mais responsabilidade.
E não abdico destes. 
Porquê?
Porque defendo uma sociedade equilibrada, responsável individualmente, com base no individuo para a sociedade e com a reunião das civilizações.
E aceito a existência da diferença. Aliás a igualdade, como atrás referi, só existe nos direitos, nos deveres e nas oportunidades. Tudo o resto são diferenças. E ainda bem. Pois a ideia de transformar uma diferença numa igualdade é que cria o preconceito, a xenofobia e o radicalismo despropositado. Assim, nesta matéria, não existe meio termo. Ou se defende e pratica, radicalmente os valores instituídos na cultura ocidental, ou não. 
Estes dias fui lendo muitos textos, crónicas, noticias sobre estes ataques tão horrendos e que continuam a matar tantos inocentes. Foram muitas as teorias de destruição maciça dos radicais, teorias da conspiração sobre o fundamento destes ataques e teorias do medo, teorias de ódios e sentimentos mistos quanto ao povo mulçumano. Falou-se dos refugiados que fogem do mesmo, dos povos que sofrem com o EI, de pontos de vista aos ataques ao EI. Mas todos estes textos são palavras ao vento quando confrontados com a realidade. Eles não querem saber de quem foge, de quem ainda mantém a coragem de enfrentar esse pensamento fundamentalista, ou de quem se manifesta nas ruas, das velas ou dos sinos em batida. 
Vivemos numa Europa recheada de povos. Então como é que nos nossos países não existem essas diferenças? Elas existem sim. Mas existem dentro de dois dos valores mais belos do mundo contemporâneo. A Pluralidade e a Liberdade. Mas não da igualdade que tanto tem sido pronunciada pelos cantos desta Europa tão permissiva e tão fragilizada pelos fantasmas. 
 A teoria de que todos somos iguais, aos olhos de alguém. Pois não somos. Somos diferentes. E ainda bem. As teorias da igualdade, no género, na raça, na cultura, na sexualidade, etc, não existem. Somos todos diferentes, ponto final. 
E é essa a visão do EI. Eles sabem que somos diferentes deles. Por isso nos querem eliminar. Tudo o resto são palavras levadas pelo vento. 
Assim, só podemos combatê-los com a firmeza fundamental dos nossos valores. Não podemos ceder aos seus princípios, nem devemos alterar os nossos hábitos em função de outras culturas. A pluralidade leva a uma ordem para todos os que nela habitam. Mas com o total respeito pela individualidade. Mas no colectivo essa ordem tem de permanecer intacta. O colectivo não pode ser corrompido pela satisfação de uma suposta minoria. Se assim acontecer, alimentamos duas coisas: minorias e respectivas consequências, e portas de entrada à intolerância. E é aqui que entra o EI nas nossas sociedades. Se aceitamos e defendemos a paridade, não podemos pactuar com Burkas ou outras formas de vestuário, só para não ofender uma certa cultura. E a ofensa feita à tolerância, à liberdade, ao direito à diferença? 

De lado estás? Chegou a hora da definição. Tudo o resto, são palavras levadas pelo vento. 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Carta Aberta ao Presidente. Por um Novo Governo.

Exmo. Sr. Presidente da República Portuguesa,

Dirijo-me a sua Excelência. Como cidadão português que sou e com o total respeito pela instituição que representa.
Escrevo esta carta para lhe fazer uma solicitação, um pedido sentido. Nem sempre tive de acordo consigo, e nos 9 anos estive mais vezes em desacordo.
Nasci poucos anos antes do 25 de Abril. Não o vivi, não sei o que foi viver antes da queda da Ditadura, mas sei duas coisas fundamentais:
-       senti estes anos muito da factura sociocultural que esse mesmo regime nos deixou;
-       e sempre procurei desenvolver uma consciência autónoma, livre e individual, sem preconceitos ideológicos ou preceitos revolucionários.
Defendo uma visão democrática. E por esse ponto de vista, venho solicitar-lhe que dê posse ao novo Governo que resulta dos acordos celebrados entre PS, BE e CDU.
Pode-me perguntar porque este pedido. Eis as razões então:
1.     Porque é hora de terminar de uma vez por todas com a apologia demagógica neste país. É altura de erradicar, de uma vez por todas, esta maneira de pensar retrógrada e absolutista, de que os democratas são os  que votam na Esquerda. A tal facção que defende os reais interesses do País, dos trabalhadores, contra o Grande Capital, contra os interesses instalados, etc., etc...eu sei senhor Presidente, é uma cassete inconfundível e quase que me sangra os ouvidos. Logo, só colocando estas ideias no risco da responsabilização é que se poderá verificar a sua veracidade, e as tais soluções sebastianistas que tanto apregoam. Eu sei, eu também desejava, como o senhor, que todos estes partidos fizessem parte integrante do governo. Pois, mas nisso tenho de retirar o chapéu ao BE e CDU, porque eles ai são conscientes, de que, sendo governo, seriam forçados a abandonar toda uma estratégia que os mantém vivos, que lhes permite ainda enganar as pessoas com um falso altruísmo de benfeitores. Mas, do mal o menos. Teremos agora a oportunidade de verificar a tal verdade absoluta que tanto defendem. Sim, absoluta, porque falamos de partidos absolutistas e revolucionários. Seria bom as pessoas terem a noção que estes partidos de esquerda radical, não defendem esta democracia moderada e socialmente equilibrada, mas sim uma democracia revolucionaria, porque as suas ideologias politicas necessitam de uma constante revolução, ou seja, de uma permanente situação de conflito. Logo Abril nunca seria tantas vezes necessário ser invocado. Lembro que a nossa verdadeira liberdade começou a 25 de novembro, com a libertação de um espectro de absolutismo comunista que imperava no pós 25 de Abril. O mesmo defendido pelo tal Comité Central do PCP, que ainda persiste até aos dias de hoje, e que é o único, ainda, partido comunista Europeu Pró-Soviético ( não digo russo, digo Soviético e tudo o que nele se insere). Quanto ao BE, uma junção de variantes revolucionárias, desde a UDP de Mário Tomé ( para quem não se recorda) até ao PSR...acho que não há necessidade de dizer algo mais. Sobre o PS? Pois, eu sempre achei que Soares criou uma linha divisória dentro do partido, entre o centro esquerda e a esquerda radical, precisamente porque o espectro político do PS é enorme e assim permitia evitar uma viragem a essa esquerda radical que, como referi atrás defende mais o revolucionário do que o equilíbrio. Logo, todos os governos do PS sempre se pautaram pelo centro-esquerda. Mas este Costa que nos deu à costa, repleto de famintos insectos do poder, achou que essa linha devia deixar de existir e sim criar uma outra, mas agora que separa aquele PS que se junta mais ao centro. Logo o Regime mudou de facto. Pena tenho dos eleitores do PS equilibrado e responsável, que é fundamental a sua existência no equilíbrio das funções da democracia.
2.     Cito John Steinbeck “ É curioso como uma desgraça nos parece longínqua quando não nos atinge pessoalmente”. Isto para me dirigir aos portugueses que resolveram por dois tipos de consciência. A da abstenção, procurando não querer ter nada a ver com o que se passa no país ( e não incluo aqueles que infelizmente foram impedidos de exercer o seu voto) e os que procuram no voto o seu protesto. A falta de consciência política e social neste país ainda é, infelizmente, gritante. Por isso a demagogia vence sempre a verdade. Por isso o gratuito mediatismo e o respectivo resultado catastrófico dele resultante. Logo este resultado da queda do Governo é também da irresponsabilidade daqueles que acham que o verdadeiro protesto é ir de punho em riste e gritar liberdade, sem saber primeiro que existe a responsabilidade por se ser livre. É mais fácil ver no olho do outro, a mosca que incomoda o nosso.
3.     Gostava de que desse posse a este Governo de esquerda para saber afinal como é que alguém consegue com 100 euros de receita, aumentar a mesada do filho para 150 euros? Como é que alguém consegue transformar um empregador que praticamente nada produz, como o Estado, na maior máquina produtora da economia, com crescimentos acima dos 5% ao ano? ( E estou a ser generoso). Como é que alguém consegue, sem receitas e através da gratuitidade, fornecer cuidados de saúde e educação a toda a população? Como é que alguém consegue, com uma segurança social na miséria, garantir aumento das pensões e garantir pensões a todas as gerações vindouras? Como é que alguém vai continuar a suportar uma rede de transportes obsoleta e manipulada pelos sindicatos, a terem lucros de forma a tornarem-se sustentáveis? Como é que alguém vai conseguir manter ligado ao Estado tantos e mais trabalhadores? Se conseguirem, então encontraram o filão de ouro, e eu serei o primeiro a dizer em publico “Obrigado”. Mas sei que não o vou dizer, por duas vias, primeiro porque é impossível ( já nem as utopias o sustentam) e porque a Europa não deixa, pois como dizia Thatcher, O socialismo só sobrevive enquanto existir o dinheiro dos outros. E tenhamos consciência, nós vivemos com o dinheiro dos outros. Porque o nosso foi todo gasto. Duvidas?... e nem falo dos impostos e dos subsídios...
4.     Mas gostava também de que este Governo fosse empossado, que esta maioria de esquerda mostrasse as suas verdadeiras sementes. “Contra o Grande Capital, contra os Patrões, contra os Bancos, etc, etc...” E eu pergunto, afinal se são contra grande Capital, vão expulsar a Auto-Europa por exemplo, ou seja, vão dizer à VW para se ir embora? E a outras como tal? Espera, e o que irão dizer aos milhares de trabalhadores que tem o seu emprego seguro nessas empresas? Mas se elas pertencem ao grande Capital, ao Inferno Alemão como a VW, gostava mesmo de perceber então o que desejam fazer com esta empresa? Depois, contra os patrões... em toda a história, sempre houve patrões e empregados, por exemplo, o Governo de maioria de esquerda irá ser o patrão dos empregados do Estado...aliás, o maior patrão neste país...se são contra os Grandes Patrões, o que vão agora dizer quando forem eles próprios os patrões? E contra os bancos...bem aqui então é que gostava mesmo de perceber...senão veja comigo, senhor Presidente, eu não sou a favor do que os bancos fazem, defendo uma maior regulação independente e privada ( pois a regulação estatal permite todo o negocio de corrupção e destruidor do sistema bancário...volto a uma máxima libertária que defendo, maior liberdade, maior responsabilidade). Mas eu não tenho outra maneira de ter um deposito de dinheiro? Onde é que esses mesmos senhores que defendem a nacionalização da banca e são contra todo o sistema financeiro, colocam o seu dinheiro, as suas poupanças? Nas mãos do Comité Central, qual religião absolutista, ou debaixo dos colchões?... e se exterminarmos os bancos, o que fazemos, vamos regressar à velha forma de eu levo um saco de batatas para trazer um quilo de arroz?
5.     Como a esquerda sempre defendeu, neste país só é legitimo quem é de esquerda. Só se é democrata quem é de esquerda. Só se é escritor quem é de esquerda. Só se é ator quem é de esquerda. Só se é cantor quem é de esquerda. Só se é jornalista digno de nome, quem é de esquerda. Só se é honesto, quem é de esquerda. Só se gosta dos animais quem é de esquerda. Só se defende as mulheres quem é de esquerda. Só quem é de esquerda é que não é preconceituoso. Só os de esquerda é que defendem a abolição de vários tabus e preconceitos. Só se é patriótico quem é de esquerda. Logo, tendo uma maioria, legitima como o defendem, se calhar vamos agora ter tudo legitimo e repleto de inteligência. Mas só os que são de esquerda, porque os outros não existem. E mais ainda questiono, onde estão aqueles que o criticaram a si, senhor Presidente, pelas palavras que proferiu sobre os partidos mais radicais como a CDU e o BE, referindo que o senhor Presidente ignorou todos os portugueses que votaram nesses partidos? Eu acho que o senhor não o devia ter dito. Eu partilho do que disse quanto ao radicalismo, mas eu não sou Presidente de Portugal. No entanto, perguntava por eles, porque não vi nenhum vir a publico, dizer algo sobre a frase proferida pelo Carlos César quando disse que a Direita se dá mal com a Democracia. Então e os mais de 2 milhões de portugueses que votaram nessa direita, dão-se mal com a democracia? Foram ignorados? Claro que são ignorados. Afinal quem é de direita, não pertence a este país, e esses sim, deviam emigrar. Porque só se deve ficar quem é de esquerda. O pluralismo libertário não existe neste país, senão todas as forças seriam mais respeitadas e devidamente audíveis.
6.     Por fim, e não querendo alongar-me muito mais, gostava de citar o Marquês de Maricá, “Não desesperais na desgraça, ela é frequentemente uma transição necessária para a boa fortuna”. Espero que depois da tempestade, venha a bonança.

Termino apenas dirigindo duas palavras, uma ao Costa que é o mais dos abomináveis políticos que conheci em Portugal, sem escrúpulos e sem carácter:
“Invejo a burrice, porque é eterna.” Nelson Rodrigues
Outra é para si, senhor Presidente,
“Nunca discutas com um estúpido, pois ele vai-te obrigar a descer ao seu nível e ai ganhar-te-á. “ Mark Twain


Assina, um cidadão não reconhecido democraticamente e apartidário.

domingo, 8 de novembro de 2015

Marketing do Eu por Luiz Felipe Pondé


Um jovem rabino, angustiado com o destino da sua alma, conversava com seu mestre, mais velho e mais sábio, em algum lugar do Leste Europeu entre os séculos 18 e 19.

Pergunta o mais jovem: "O senhor não teme que quando morrer será indagado por Deus do porquê de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias? Eu sempre temo esse dia".

O mestre teria respondido algo assim: "Quando eu morrer e estiver na presença de Deus, não temo que Ele me pergunte pela razão de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias, temo que Ele me pergunte pela razão de eu não ter conseguido ser eu mesmo".

Trata-se de um dos milhares de contos hassídicos, contos esses que compõem a sabedoria do hassidismo, cultura mística judaica que nasce, "oficialmente", com o Rabi Baal Shem Tov, que teria nascido por volta de 1700 na Polônia.

A palavra "hassidismo" é muito próxima do conceito de "Hesed", piedade ou misericórdia, que descreve um dos traços do Altíssimo, Adonai ("Senhor", termo usado para se referir a Deus no judaísmo), o Deus israelita (que, aliás, é o mesmo que "encarnou" em Jesus, para os cristãos).

Hassídicos eram conhecidos como "bêbados de Deus", enlouquecidos pela piedade divina (e pela vodca que bebiam em grandes quantidades para brindar a vida...) que escorre dos céus para aqueles que a veem.

São muitas as angústias de quem acredita haver um encontro com Deus após a morte. Mas ninguém precisa acreditar em Deus ou num encontro como esse para entender a força de uma narrativa como esta: o primeiro encontro, em nossa vida, que pode vir a ser terrível, é consigo mesmo. Claro que se Deus existe, isso assume dimensões abissais.

Para além do fato óbvio de que o conto fala do medo de não estarmos à altura da vontade de Deus, ele também fala do medo de não sermos seres morais e justos, como Moisés e Elias, exemplos de dois grandes "heróis" da Bíblia hebraica. Ser como Moisés e Elias significa termos um parâmetro moral exterior a nós mesmos que serviria como "régua".

A resposta do sábio ancião ao jovem muda o eixo da indagação: Deus não está preocupado se você consegue seguir parâmetros morais exteriores, Deus está preocupado se você consegue ser você mesmo.

Não se trata de pensar em bobagens do tipo "Deus quer que você seja feliz sendo você mesmo" como pensaria o "modo brega autoestima de ser", essa praga contemporânea. Trata-se de dizer que ser você mesmo é muito mais difícil do que seguir padrões exteriores porque nosso "eu" ou nossa "alma" é nosso maior desafio.

Enfrentar-se a si mesmo, reconhecer suas mazelas, suas inseguranças e ainda assim assumir-se é atravessar um inferno de silêncio e solidão. Ninguém pode fazer isso por você, é mais fácil copiar modelos heroicos, por isso o sábio diz que Deus não quer cópias de Moisés e Elias, mas pessoas que O enfrentem cara a cara sendo quem são.

Podemos imaginar Deus perguntando a você se teve coragem de ser você mesmo nos piores momentos em que ser você mesmo seria aterrorizante. Aí está o cerne da "moral da história" neste conto.

Noutro conto, um justo que morre, chegando ao céu, ouve ruídos horrorosos vindo de uma sala fechada. Perguntando a Deus de onde vem aquele som ensurdecedor, Deus diz a ele que vá em frente e abra a porta do lugar de onde vem a gritaria. Pergunta o justo a Deus que lugar seria aquele. Deus responde: "O inferno". Ao abrir a porta, o justo ouve o que aqueles infelizes gritavam: "Eu, eu, eu...".

Ao contrário do que dizia o velho Sartre, o inferno não são os outros, mas sim nós mesmos. Numa época como a nossa, obcecada por essa bobagem chamada autoestima, ocupada em fazer todo mundo se achar lindo e maravilhoso, a tendência do inferno é ficar superlotado, cheio de mentirosos praticantes do "marketing do eu".

Casas, escritórios, academias de ginásticas, igrejas, salas de aula, todos tomados pelo ruído ensurdecedor do inferno que habita cada um de nós. O escritor católico George Bernanos (século 20) dizia que o maior obstáculo à esperança é nossa própria alma. Quem ainda não sabe disso, não sabe de nada.


Leia mais em  http://www.paulopes.com.br/2012/06/inferno-nao-sao-os-outros-mas-o.html#ixzz3qwlbipao
Paulopes informa que reprodução deste texto só poderá ser feita com o CRÉDITO e LINK da origem. 

domingo, 1 de novembro de 2015

Com(paixão).




Compaixão.
Essa palavra tão badalada nos últimos tempos da modernidade.
Essa expressão que tantos nos diz, enquanto seres pensantes e sensitivos.
Essa sensação que procuramos em nós pelos demais…pelos outros que nos rodeiam, pelos animais, pelas plantas, pelo planeta.
A compaixão que nos impele a olhar para as vitimas, para a destruição, para a fome, o sofrimento, a dor, a violência, para as guerras, para os confrontos, com um olhar padecido de compreensão, procurando perceber porque é que um mundo, uma vida, uma existência permite a diferença abismal das coisas.
Vivemos tempos em que as frases fáceis, os pensamentos gratuitos, as filosofias inundaram a internet, as redes sociais e os mails, diariamente. Anda-se com livros de baixo do braço, cheios de aforismos de Oscar Wilde, ou sites próprios de frases rodeadas de sentimentos, sensações e temas profundamente tocantes. Enviam-se mails com imagens de locais idílicos e com frases certas para o destinatário certo. 
Precisa-se de uma frase alheia para exprimir a amizade, um amor, para dizer que se está apaixonado; um texto para traduzir uma dor, uma perda; de um pensamento para mostrar uma maturidade, um crescimento. Uma foto, um artigo, uma reportagem em que se mostre uma lágrima, uma desgraça, uma pessoa inspiradora. Partilham-se vídeos, livros de auto-ajuda, fomenta-se a procura de ideias que possam mudar a vida num estalar de dedos. 
Temos programas nas televisões sobre a ajuda, sobre o voluntário, o amor pelo outro. Temos reportagens de largar uma compaixão desnudada de egos, despojada de orgulhos. 
Certo dia no meu passado recente, sentado à beira do abismo, num rochedo que abraça o mar, olhava inospitamente o horizonte. De tantos pensamentos que corriam a minha rede cerebral, construiu-se uma questão algo inquietante, e deveras enigmática. Por quem sinto compaixão, e porque sinto compaixão?
Viajei nesse mesmo instante até aos profundos do meu ser, assaltando-me de leve, mas em esforço, rasgando-me pornograficamente o meu intimo. Sentia-me confrontado com um desconforto. Uma espécie de faca aguçada que ia lambendo-me o sangue e expondo-o. Expondo-o a olhos, os meus que tão pouco queriam ver. Desejavam o mais simples, o mais facil, aquilo que seria sempre mais simples de pensar. Que a compaixão que sinto pelos outros e por tudo o que me rodeia, é apenas fruto de uma vontade de fazer o bem, de o praticar até à exaustão. 
Mas fiquei em choque. 
Afinal não é essa a expressão visível da compaixão.
Ela existe em mim não pelos os outros, pelos demais, mas por mim.
Eu apenas sinto compaixão por mim.
Eu apenas procuro a compaixão por mim.
Sentimento impregnado na minha mente, no meu ego, pelo agradar ao  outro, pela forma simbólica de me esconder, e desculpar, de ter um lado mau, de possuir um padrão agressivo, subvertido, abominável. Em choque com as minhas convicções, com as minha personalidade de pessoa de bem.
Olhei o mar, que vinha e ia. Ele traduz afinal tudo o que existe. Que não existe bem nem mal. Que não existe nenhuma fronteira entre a pratica do bem e do mal. Não existe nenhum mecanismo que desperte um lado ou o outro. Porque não existem lados. Existe apenas o que é. Nada mais. O mar dá e tira. A vida dá e tira. Os caminhos dão e tiram. Todos os animais, todas as plantas, todo o ser, dá e tira. Eu dou e tiro. Mas, pelos padrões modernos e as culturas ocidentais, não nos perdoamos de tirar, logo procuramos muito a necessidade de dar. Logo procuramos a compaixão em nós, para satisfazer essa lacuna silenciosa que habita em nós. Mas é de nós que temos compaixão, é dessa compaixão que necessitamos. 

Significado de Compaixão
s.f. Sentimento de pesar que nos causam os males alheios, bem como uma vontade de ajudar o próximo. 
Sentimento de simpatia ou de piedade para com o sofrimento alheio, associado a vontade ou ao desejo de auxiliar de alguma forma: doar dinheiro para campanhas humanitárias é uma atitude que envolve muita compaixão.

Sentimento de pesar. Por quem? Por nós próprios. 
Porquê? Porque não me sinto feliz, realizado por completo, amado no meu todo.
Pelo males alheios? Sim. Pelos males que o ego, o orgulho, a mente, que pensamos ser alheio a nós mesmos, nos faz sentir. Mas que somos nós que fazemos a nós mesmos. 
Vontade de ajudar o próximo? Sim, claro. 
Porquê? Porque nos alivia o peso da dor. Porque nos projecta nos outros. Porque de facto quem desejamos ajudar somos nós, mas negamo-lo piamente. Aliás, certamente que o primeiro pensamento que virá à sua mente, caro leitor, é que não se revê nestas palavras, nesta ideia, afinal até está bem resolvido. Estará mesmo? Porque é que sente a necessidade de se justificar perante elas?
Simpatia, piedade ao sentimento alheio, associado a vontade ou desejo de auxiliar de alguma forma? Claro. Precisamos de acções externas a nós para desviarmos o que nos aprisiona interiormente. Logo as frases, a necessidade de expormos aos outros o que fazemos pelos outros, a necessidade de partilharmos as acções, as lutas, as demandas. 

No fundo, vivemos uma era moderna e contemporânea. Mas talvez estaremos a viver a maior era das prisões. Estamos aprisionados como nunca o estivemos na historia da humanidade. Estamos presos ao maior dos cárceres. À solidão. À falta de amor próprio. Mas a pior, à falta de identidade própria. Não sabemos quem somos, o que somos, e como devemos ser.
Procuramos a felicidade que sentimos nunca alcançar.
Procuramos a realização que sentimos nunca alcançar.
Procuramos a pessoa ideal que sentimos nunca conseguir conhecê-la de facto.
Procuramos o caminho certo que sentimos nunca o encontrar.
Procuramos o Deus perfeito, que nunca chegamos a conhecer.
Procuramos a razão certa de viver, que sentimos nunca perceber.
Mas afinal, em conclusão, o que procuramos? Nós próprios.
Todos os conceitos atrás referidos não existem. Esse é dos outros choques que a compaixão por mim me trouxe. Não existe o conceito de felicidade, não existe o conceito de realização pessoal, não existe a pessoa ideal, o Deus perfeito, o caminho certo, a razão certa. Tudo isso não existe.
Porque? Como é possível proferir tal ideia?
Porque isso são apenas imagens, padrões que se desenharam na mente, desculpas que se esculpiram no homem, para que exista uma suposta vontade de se fazer, de se executar algo. Mas nada disso existe, porque por mais que se faça com esse intuito, menos se sente, menos se encontra. Mais o mundo anda perdido, mais o mundo vai em direcção de uma anarquia de sentimentos, de conceitos. 
Mas então o que existe?
Nós, cada um, individualmente seres existentes, parte integra de um todo, que funciona assim, integrado no todo. E tudo o que se procura?… Sim, está tudo num só sitio. Individualmente dentro de cada um. Sim, já se sabe disso tudo, claro, por se saber isso mesmo, é que sempre se defendeu tal, sempre se apregoou tal, mas e estaremos mesmo a ver, sentir e a viver isso mesmo? Não. Porque os conceitos atrás mencionados continuam a ser a procura do homem. Sinal máximo que ele se procura, que ele procura saber quem é afinal. Logo, não aceita quem é. Por isso a necessidade sentir compaixão… mas por si mesmo.
Muitos negam que não sentem compaixão por si próprios. Juraram de morte que o que fazem é pelos outros, é para transformar o mundo, as consciências, o futuro de todas as gerações. Pois eu digo que o que fazem é apenas por si próprias, pela necessidade de se mostrarem vivos, de partilharem essa mesma vida, essa mesma existência. A necessidade de gritarem bem alto que estão cá, que amam, que se preocupam, que aceitam, que se resignam. Logo precisam de exemplos, de heróis, de frases e ideologias de fora para conduzirem o seu interior.
Quem de facto já aceitou a compaixão por si próprio, não tem necessidade de se mostrar. Faz apenas, executa naturalmente, sem ter que se mostrar, sem procurar protagonistas, sem ter a piedade pelos outros, porque já executou a pena no seu consciente, agora apenas sente o impulso, a vontade de simplesmente fazer o que sente que tem de fazer. E sabe que o mundo só se transforma de uma maneira, muda-te que mudarás tudo o que te rodeia. Os outros, eles existem apenas, não são resultado, o julgamento, a viabilidade de algo acontecer. Afinal, sabe em conclusão, a origem da palavra. Resultado da junção de duas palavras... Com Paixão. 

Descobri que temia a compaixão por mim. Mas o meu estado de choque vai dando lugar à aceitação. Aceitar essa compaixão por mim. Aceitar que afinal na vida os padrões são demasiado simples, tudo vem do pó e ao pó regressará… e entretanto? Entretanto só existe um caminho, viver... Com Paixão.  Será assim tão difícil? 

“Só serei livre no dia em que libertar-me das algemas de ser quem devia ser. Os outros não existem por mim, são meras figuras que existem em mim.”

Carlos Almeida.