Je suis Charlie.
Je suis Syrian.
Je suis Iraquien.
Je suis Nigerian.
Je suis de partout dans le monde.
Assistimos, na semana passada, a mais um ataque terrorista.
Assistimos incrédulos, na Europa das referencias, a mais uma chacina de
inocentes, que procuram viver e exprimir um dos maiores valores das sociedades
modernas, a liberdade de expressão. Assistimos à brutalidade com que foram
executados estes mesmos inocentes. E quero realçar a palavra inocente. Muito se
falou, por essas redes sociais de que o Charlie Hebbo se colocou a jeito de ser
atacado, pelos desenhos infames que
costumava publicar. Mas de infame apenas me recordo serem aqueles que,
hipocritamente, já se esqueceram de todos os que padeceram em campos de
batalha, em manifestações, em greves, em revoltas, tudo pela conquista da
liberdade de expressão. A mesma que lhes permite emitir uma opinião, mesmo em
contraditório, sobre este assunto ou outro qualquer, às pessoas conhecidas, nas
redes sociais, em jornais, enfim, opinar. Pois, foi precisamente contra essa
liberdade que os fundamentalistas atentaram. Não foi contra desenhos, que não
deixam de ser desenhos. Não foi contra os cartoonistas, porque outros virão,
por mais frias que possam parecer estas palavras, mas é a verdade. Não foi
contra um jornal, porque jornais não deixaram de existir. Não. Foi contra a
liberdade de expressão, a liberdade que nos permite exprimir um nome, de gritar
uma ideia, de desenhar uma opinião, de cantar uma revolta. Foi isso que os
fundamentalistas quiseram calar.
Vivemos em sociedades modernas, onde as liberdades
adquiridas são verticais, pois são transversais a todos os que compõem as ditas
sociedades. Por isso, por exemplo, numa situação de crise, podemos assistir a
greves, a manifestações, a eleições, a debates, à criação de movimentos, enfim
a uma série de transformações que só vivendo numa liberdade de expressão se
pode ter acesso. Vivemos também numa sociedade regulada, não de forma perfeita,
mas regulada no sentido da ordem, de instituições e de pessoas. Todas estas
liberdades são proibidas num Estado Islâmico. Eles não permitem opiniões que
não sejam as definidas pelos líderes, pelos clérigos islâmicos, que entre
muitas atrocidades intelectuais, por exemplo, não reconhecem a existência da
mulher como ser humano. E recorrem à chaira, que para perceberem o que
significa, aqui fica o recurso à Wikipédia:
A charia é o corpo da lei religiosa islâmica. O termo
significa "caminho" ou "rota para a fonte de água", e é a
estrutura legal dentro do qual os
aspectos públicos e privados da vida do adepto do islamismo são regulados, para
aqueles que vivem sob um sistema legal baseado na fiqh (os princípios islâmicos da jurisprudência) e para os
muçulmanos que vivam fora do seu domínio. A charia lida com diversos aspectos
da vida quotidiana, bem como a política, economia, bancos, negócios, contratos, família, sexualidade, higiene e questões sociais.
Mais ainda, no
fundamentalismo islâmico não existem diferenças entre o direito e o religioso,
é tudo regulado pelo Corão. Eu não conheço o Corão, confesso, mas sei que
recorrendo à História, o islamismo só soube recorrer a um conceito para atingir
os seus meios, o sangue dos outros.
Duvidas sobre as
diferenças?
Para mim nenhuma. Não
podemos ceder ao medo. Um Coronel americano escrevia, após o conflito do
Kuwait, que a Terceira Guerra Mundial
iria começar e iria ser a mais longa de todas, e seria contra o inimigo mais
desumano e mais difícil de combater, a escuridão, o desconhecido, o inimigo
dormindo com a sua vitima. É esta a realidade. e qualquer pessoa que se possa
achar minimamente inteligente, não pode entrar pelas vias do “ eles
colocaram-se a jeito” ou “ tudo isto foi orquestrado pelo ocidente”, como já
havia lido com o 11/9 e agora com os atentados de Paris. Morreram inocentes em
ambos os casos, não estamos a falar de um filme de grande ecrã e cheio de
efeitos especiais. É a realidade. aos olhos do fanatismo islâmico somos todos
infiéis, aliás, para eles os muçulmanos não fundamentalistas, os que creem em
Alá como os cristãos em Deus e Jesus, estes também são vistos como infiéis,
porque não se regem pelas leis que eles doutrinam. Existem muito boa gente no
mundo Muçulmano, no mundo Árabe, nos países Árabes. Aliás, muitos dos fundamentalistas, neste
momento, já são ocidentais que se alistaram às fileiras deste movimento.
Podemos falar ainda da
Siria, do problema do Iraque, do Afeganistão, da Nigéria e que todo este
movimento não se deu aquando de atentados nesses países. Eu sou, como digo no
inicio do texto, pelos que padecem às mãos destes terroristas. Eles lutam pela
sua liberdade. E todos devem ser lembrados. Mas, temos de abordar a importância
das referencias. Tal como nós as temos em termos pessoais, o mundo também tem essas
mesmas referencias, e a Europa é essa referencia mundial. Por alguma razão,
todos os povos de África e de países Árabes tentam a sua sorte neste continente
das luzes. E porquê? Referencia da
liberdade. E foi neste continente, no pais onde nasceu um dos maiores símbolos
da liberdade contemporânea, num jornal
que praticava essa mesma liberdade, através de um lápis, que estava já entregue
ao pior dos juízos, o dos leitores, foi neste lugar onde foram cometidos, pela
lei das armas, as atrocidades, a tentativa de calar a liberdade de expressão. A
verdade é esta, mais nenhuma.
Não venham agora dizer
que o problema é dos EUA, de Israel, ou que nem todos os jornalistas são Je
suis porque não tem “tomates” de criticar os nossos governantes, ou mesmo como
li hoje, que foi tudo orquestrado e é tudo uma farsa para desviar certas
atenções... ou ainda que o problema é da austeridade...sobre a hipocrisia,
escreveu William Shakespeare, “O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe
convém”. Os que procuram as culpas naqueles que não os fundamentalistas,
procuram apenas seguir a sua própria agenda intelectual, que à 2º, 3º e 4º a
culpa é dos EUA e do capitalismo, e à 6º, sábado e domingo já é Israel, a
própria França, o jornal e sei lá o quê mais...
Todos temos de assumir as
nossas responsabilidades na sociedade, na liberdade.
Queres ser mesmo livre ou
preferes afinal viver preso na hipocrisia?
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