segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Je suis





Je suis Charlie.
Je suis Syrian.
Je suis Iraquien.
Je suis Nigerian.
Je suis de partout dans le monde.

Assistimos, na semana passada, a mais um ataque terrorista. Assistimos incrédulos, na Europa das referencias, a mais uma chacina de inocentes, que procuram viver e exprimir um dos maiores valores das sociedades modernas, a liberdade de expressão. Assistimos à brutalidade com que foram executados estes mesmos inocentes. E quero realçar a palavra inocente. Muito se falou, por essas redes sociais de que o Charlie Hebbo se colocou a jeito de ser atacado, pelos desenhos infames que costumava publicar. Mas de infame apenas me recordo serem aqueles que, hipocritamente, já se esqueceram de todos os que padeceram em campos de batalha, em manifestações, em greves, em revoltas, tudo pela conquista da liberdade de expressão. A mesma que lhes permite emitir uma opinião, mesmo em contraditório, sobre este assunto ou outro qualquer, às pessoas conhecidas, nas redes sociais, em jornais, enfim, opinar. Pois, foi precisamente contra essa liberdade que os fundamentalistas atentaram. Não foi contra desenhos, que não deixam de ser desenhos. Não foi contra os cartoonistas, porque outros virão, por mais frias que possam parecer estas palavras, mas é a verdade. Não foi contra um jornal, porque jornais não deixaram de existir. Não. Foi contra a liberdade de expressão, a liberdade que nos permite exprimir um nome, de gritar uma ideia, de desenhar uma opinião, de cantar uma revolta. Foi isso que os fundamentalistas quiseram calar.
Vivemos em sociedades modernas, onde as liberdades adquiridas são verticais, pois são transversais a todos os que compõem as ditas sociedades. Por isso, por exemplo, numa situação de crise, podemos assistir a greves, a manifestações, a eleições, a debates, à criação de movimentos, enfim a uma série de transformações que só vivendo numa liberdade de expressão se pode ter acesso. Vivemos também numa sociedade regulada, não de forma perfeita, mas regulada no sentido da ordem, de instituições e de pessoas. Todas estas liberdades são proibidas num Estado Islâmico. Eles não permitem opiniões que não sejam as definidas pelos líderes, pelos clérigos islâmicos, que entre muitas atrocidades intelectuais, por exemplo, não reconhecem a existência da mulher como ser humano. E recorrem à chaira, que para perceberem o que significa, aqui fica o recurso à Wikipédia:
A charia é o corpo da lei religiosa islâmica. O termo significa "caminho" ou "rota para a fonte de água", e é a estrutura legal dentro do qual os aspectos públicos e privados da vida do adepto do islamismo são regulados, para aqueles que vivem sob um sistema legal baseado na fiqh (os princípios islâmicos da jurisprudência) e para os muçulmanos que vivam fora do seu domínio. A charia lida com diversos aspectos da vida quotidiana, bem como a política, economia, bancos, negócios, contratos, família, sexualidade, higiene e questões sociais.
Mais ainda, no fundamentalismo islâmico não existem diferenças entre o direito e o religioso, é tudo regulado pelo Corão. Eu não conheço o Corão, confesso, mas sei que recorrendo à História, o islamismo só soube recorrer a um conceito para atingir os seus meios, o sangue dos outros.
Duvidas sobre as diferenças?
Para mim nenhuma. Não podemos ceder ao medo. Um Coronel americano escrevia, após o conflito do Kuwait,  que a Terceira Guerra Mundial iria começar e iria ser a mais longa de todas, e seria contra o inimigo mais desumano e mais difícil de combater, a escuridão, o desconhecido, o inimigo dormindo com a sua vitima. É esta a realidade. e qualquer pessoa que se possa achar minimamente inteligente, não pode entrar pelas vias do “ eles colocaram-se a jeito” ou “ tudo isto foi orquestrado pelo ocidente”, como já havia lido com o 11/9 e agora com os atentados de Paris. Morreram inocentes em ambos os casos, não estamos a falar de um filme de grande ecrã e cheio de efeitos especiais. É a realidade. aos olhos do fanatismo islâmico somos todos infiéis, aliás, para eles os muçulmanos não fundamentalistas, os que creem em Alá como os cristãos em Deus e Jesus, estes também são vistos como infiéis, porque não se regem pelas leis que eles doutrinam. Existem muito boa gente no mundo Muçulmano, no mundo Árabe, nos países Árabes.  Aliás, muitos dos fundamentalistas, neste momento, já são ocidentais que se alistaram às fileiras deste movimento.
Podemos falar ainda da Siria, do problema do Iraque, do Afeganistão, da Nigéria e que todo este movimento não se deu aquando de atentados nesses países. Eu sou, como digo no inicio do texto, pelos que padecem às mãos destes terroristas. Eles lutam pela sua liberdade. E todos devem ser lembrados. Mas, temos de abordar a importância das referencias. Tal como nós as temos em termos pessoais, o mundo também tem essas mesmas referencias, e a Europa é essa referencia mundial. Por alguma razão, todos os povos de África e de países Árabes tentam a sua sorte neste continente das luzes.  E porquê? Referencia da liberdade. E foi neste continente, no pais onde nasceu um dos maiores símbolos da liberdade contemporânea,  num jornal que praticava essa mesma liberdade, através de um lápis, que estava já entregue ao pior dos juízos, o dos leitores, foi neste lugar onde foram cometidos, pela lei das armas, as atrocidades, a tentativa de calar a liberdade de expressão. A verdade é esta, mais nenhuma.
Não venham agora dizer que o problema é dos EUA, de Israel, ou que nem todos os jornalistas são Je suis porque não tem “tomates” de criticar os nossos governantes, ou mesmo como li hoje, que foi tudo orquestrado e é tudo uma farsa para desviar certas atenções... ou ainda que o problema é da austeridade...sobre a hipocrisia, escreveu William Shakespeare, “O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém”. Os que procuram as culpas naqueles que não os fundamentalistas, procuram apenas seguir a sua própria agenda intelectual, que à 2º, 3º e 4º a culpa é dos EUA e do capitalismo, e à 6º, sábado e domingo já é Israel, a própria França, o jornal e sei lá o quê mais...
Todos temos de assumir as nossas responsabilidades na sociedade, na liberdade.
Queres ser mesmo livre ou preferes afinal viver preso na hipocrisia?



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