domingo, 18 de janeiro de 2015

Cowspiracy ou o principio da consciência?




Na semana passada tive a oportunidade de assistir a um debate sobre vegetarianismo, veganismo, no Saldanha Residence. Tudo após um filme que tem levantado muitas reflexões e discussões acesas, o “Cowspiracy”. Infelizmente não assisti à sua exibição, porque já não havia bilhetes. No entanto, o debate era aberto a todos o que desejaram participar. Sei que a temática da fita é o poderio agroalimentar e tudo o que envolve as produções relacionadas com as vacarias. Discussões sobre o excesso de produção animal, o desrespeito pelos animais, as alterações que sofrem os produtos derivados (carne, leite, etc) e as suas consequências na saúde animal no seu todo, as alterações ambientais derivadas deste excesso de produção, e a cegueira das autoridades, das sociedades e das ONGs ambientais perante este drama, perante este problema. Não quero estar a falar de cor sobre o filme, mas fiquei com a ideia de serem os temas principais e polémicos.
No debate, onde participou uma figura nacional conhecida, João Manzarra, recentemente se tornou vegan, depois de ter visionado o dito filme, imperou na maioria sobre o ser ou não vegetariano/ vegan.
Houve intervenções mais ou menos utópicas, desde aqueles que achavam que o mundo devia ser todo vegan ( leia-se que é a opção em que nada animal pode ser consumido, incluindo até a roupa e seus derivados), outros que falaram do facto de um vegetariano ainda ser visto como um alienígena, até às dietas/ modos de vida vegetarianos que se deve reger alguém que opte por tal.
A alimentação é um bem essencial na nossa existência. Somos o que comemos, sem duvida. Hoje as consequências dessas mesmas opções alimentares trazem-nos benefícios ou doenças, muitas delas mortais. No entanto, penso que a alimentação é apenas uma das partes de uma enorme árvore que constitui este tema. A raiz, o principio de tudo, chama-se consciência própria. É ai que reside o inicio de cada opção. É aqui que devem surgir respostas a questões como:
Quem sou eu no mundo?
Qual a minha posição sobre a existência de outros animais, como eu?
Qual a minha visão sobre o lugar que devem ocupar cada animal no mundo em que vivo?
Qual a minha relação com os outros animais?
Qual a minha relação com o meio ambiente?
O que espero do meio ambiente?
E a pergunta das perguntas:
Qual o meu papel no meio ambiente, neste mundo, na relação com o Todo?
Não são perguntas fáceis, mas se o fossem, estou certo, que a Vida seria bem diferente para todos nós. Está aqui a discussão dos ditos direitos e deveres de todos e de tudo na Vida. Por isso é nestas questões que reside o principio dos nosso comportamentos. Muitos preferem virar as costas a elas, e olharem para o lado, ignorando e assobiando, por ser mais fácil, por ser menos trabalhoso pensar. Outros resolvem pensar desde cedo, e questionarem-se sem sacrifício e assim optarem por um modo de vida diferente, mais lógico e mais responsável para com o Todo e logo para consigo próprios.
Mas muitos dos que assobiaram para o lado durante muitos anos, chegam a um ponto em que se questionam, independente de ser tarde ou não. E quando o fazem esbarram nas questões, na consciência própria. E é aqui que tudo deve começar.
As respostas podem levar horas, dias, meses ou anos, o tempo é algo que não deve ser contabilizado, as respostas é que são o fundamental. Depois delas virá a consciência, o conhecimento. Este, por vezes cruel e duro, vai construir um pensamento, uma descoberta, um caminho. Este é que vai determinar comportamentos, mas sempre baseados numa mudança. A alimentação aqui é que entra. Com isto não digo que o caminho será o vegetarianismo ou o veganismo, não. Sempre defendi um mundo equilibrado, e esse equilíbrio tem de passar por um mundo animal herbívoro, vegetariano, vegano e carnívoro. Não se pode entrar em utopias sem sentido, de uma humanidade apenas vegana, por mais que defendamos que um dia o homem já foi herbívoro. Estamos a transformar todo este mundo animal? Sim. O homem é responsável pelo desequilíbrio animal e ambiental? Sim, com todas as letras. E qual uma possível saída para tudo isto? Anos, décadas, gerações, mudanças de consciências relativistas e colectivas para a consciência individual e responsável, sociedades baseadas em cada individuo é um individuo e responsável pela sua parte na sociedade e não pelo caminho de que todos somos um grupo e todos somos responsáveis uns pelos outros...o que leva a que ninguém é responsável, ou seja, ao relativismo irresponsável.
Pensem, construam a vossa própria consciência, sem medo, sem receios por mais que doa, por mais que choque. Construam uma responsabilidade vossa, deem-na a conhecer aos outros, fundamentada, e façam-se respeitar, respeitando os outros, sejam eles homens e mulheres, gatos e cães, vacas e bois, leões e gazelas, vegetais e árvores, etc. Todos existimos por um propósito, não existimos por um direito de presunção. Existimos pelo dever de sabermos ser responsáveis pela defesa da existência do Todo. Ser carnívoro, ser vegetariano, ser vegano, ser defensor do ambiente, ser inimigo do ambiente, ser político, ser civil, ser selvagem, ser vivo é uma responsabilidade única. Ponto final. Não existe mas e meio mas. Mas deve ser assumido com honestidade, respeito e fundamentado. Não podemos ir em modas, em ir em desrespeitos gratuitos. Isso é o principio da falta de consciência. E não podemos ser extremistas. O extremismo é uma forma de irresponsabilidade, de incoerência.
Eu? Estou a questionar-me, a rever os meus princípios para com tudo o que me envolve, a perceber comportamentos meus, a perceber a minha alimentação, a perceber a minha visão do mundo. Reajustei a minha alimentação, reajustei as minhas atitudes para com todos os animais incluindo o homem, reajustei a minha visão para com o que me circunda. Com respeito, com o dever de cumprir  as minhas responsabilidades. Sou a favor de um equilíbrio de forças, onde espetáculos como touradas, circos com animais, zoos e outros iguais não fazem sentido nenhum. O animal mais próximo, mesmo que seja homem não é um artefacto de diversão, mas sim um principio de vida. E aqueles homens que fazem acrobacias, que participam em circos de animação, ou mesmo em espetáculos de diversão, lembrem-se que não podemos defender que somos pensantes apenas para umas coisas. Eles são-no por opção, e os outros animais são-no por opção deles ou por nossa? A resposta é óbvia, não? Também não faz sentido a moda dos animais domésticos, o pavonear de uma submissão por parte de outro animal perante o homem. Domésticos somos todos aqueles que co-habitam com amor, carinho e respeito. Sejamos homens, gatos, cães, ou outro animal. E existem muitos que não nasceram para serem caseiros, o seu doméstico é o ar livre, serem livres. Afinal nascemos para sermos isso mesmo, livres. Todos. Utópico? Sim, isto sim é uma das maiores utopias, mas é o sonho não realizado na nossa existência, o dever de encontramos e olharmos a vida como ela é e não como queremos que ela seja. Ela nasceu primeiro, sempre, nós apenas somos parte desse nascimento.
Sou a favor de uma alimentação equilibrada, onde estou a reduzir bastante o consumo de carnes e seus derivados. Continuo com o consumo de peixe e seus derivados, sim, mas estou a questionar reduzir também. Se vou ser vegetariano um dia, ou mesmo vegano? Não sei. Agora o que me importa, é assumir a responsabilidade que me foi imputada por estar vivo. Para isso continuo a construir a minha consciência individual, responsavelmente.
Qual é o medo de pensar por si próprio?

1 comentário:

  1. Vim parar ao seu blog a propósito da visualizzação do mesmo documentário! de facto é um chapada na cara. Aquilo com que crescemos durante anos, e que nos foi dado como adquirido e imposto, até então nunca fez alguns, ou a grande maioria de nós pensar. Neste momento também tenho um mix de sensações. De não ter fechado os olhos, parado para pensar mais cedo e um rol de situações... mas agora o que interessa é o que cada pessoa faz com a informação que recebeu. Assimilia. Pensa? Muda? acredito que a mudança tem que vir com consciencia e sentida. quase como uma passo natural, dentro da holística capacidade que temos de pensar o mundo e tomar decisões reflectidas. Julgo que o modo como crescemos e o tais hábitos alimentares, terão aqui uma força que nos remeterá para saciar o prazer de. Mas aí teremos de combater com perseverança e sentido crítico. A mim especialmente me preocupa o efeito analítico de não ingerir carne. no que concerne a hemoglobinas, ferros, etc. Terei que me informar fidedignamente sobre tal. Gostaria de ver este documentário a ser exibida em horário nobre, em vez de uma qualquer novela-lixo. Para colocar Portugal a pensar, ou nem que seja, incomodado com a leve ideia do que está a acontecer. Senti-me também traída pelas ONG. Lavam-nos os olhos com a lição dos três R, mas ocultam-se e embaraçam-se de falar disto. Como o dinheiro é o capital motor deste mundo!! Dinheiro e medo. Aliados poderosos! Bem , teria mais para diazer mas dado o teor da hora e os 30% de assimilação que ainda fiz de tudo, fico-me por aqui, com a gratidão de ter lido alguém que também, como eu, não quer limpar para debaixo do tapete o que viu!! Cumprimentos. Daniela

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